Parceria inédita reforça integração científica entre Brasil e Uruguai no âmbito do Procisur
Acordo histórico fortalece cooperação regional
A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, assinou nesta quarta-feira, dia 3, juntamente com o Instituto Nacional de Investigação Agropecuária do Uruguai (INIA) e os ministérios da Agricultura dos dois países, o acordo para implantação da primeira Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (UMIPI) internacional da Empresa. A ação inicia uma nova etapa de integração institucional, voltada à produção de pesquisas de interesse conjunto e à articulação de fontes de financiamento para programas bilaterais.
A formalização da parceria aconteceu durante a 79ª Reunião da Comissão Diretiva do Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico dos Setores Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (Procisur), realizada em Punta del Este, Uruguai. Atualmente, a Embrapa mantém oito UMIPIs em operação e três em implantação no Brasil, consolidando o modelo como instrumento estratégico de inovação científica.
Origem do modelo UMIPI
Segundo Silvia Massruhá a inspiração para o modelo surgiu a partir de experiências bem-sucedidas em Montpellier, França. “A primeira unidade foi criada em 2012, voltada à pesquisa genômica aplicada às mudanças climáticas, reunindo pesquisadores da Embrapa e da Unicamp”, ressaltou. Para ela, “as UMIPIs são arranjos inovadores que permitem compartilhar competências, infraestrutura e recursos em prol de um propósito comum”.
Importância estratégica
Para o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Clenio Pillon, que acompanhou a presidente à missão e esteve presente à reunião do Comitê de Articulação Técnica e Institucional (CATI), o momento foi especial para a Empresa. “De forma inédita, o lançamento da primeira UMIPI internacional representa uma entrega da Embrapa que reforça a nossa atuação junto ao Procisur neste biênio, sob a liderança da presidente da Empresa”, disse. "Foi um esforço conjunto entre a DEPD, com suporte da Gerência de Cooperação em PD&I, que operacionaliza essas iniciativas, o INIA Uruguai e com apoio importante da Embrapa Clima Temperado e da Embrapa Pecuária Sul, unidades de referência para a UMIPI Internacional", destacou.
O presidente do INIA-Uruguai, Miguel Sierra, também reforçou que a nova unidade representa um salto qualitativo na cooperação. “Modelos híbridos como este permitem consolidar espaços de reflexão estratégica com impacto real”, afirmou. Segundo ele, a parceria envia uma mensagem clara à região: além de grandes produtores de alimentos, os países querem se posicionar como referências globais em tecnologia agropecuária.
Sierra destacou ainda que as duas instituições compartilham desafios e oportunidades comuns, como o bioma Pampa, a pecuária sustentável, a digitalização do agro, os bioinsumos e a gestão institucional moderna. “Este é um marco histórico”, concluiu.
Representando o ministro Carlos Fávaro, a analista da Embrapa e assessora do MAPA, Sibelle de Andrade Silva, ressaltou que a cooperação científica ampliará não apenas o comércio, mas sobretudo a inovação conjunta. Ela destacou dados de exportações agrícolas e a crescente abertura técnica entre os países. “Entre janeiro e setembro de 2025, o Brasil exportou mais de US$ 719 milhões em produtos agrícolas para o Uruguai, incluindo proteína animal, produtos florestais, erva-mate, fibras e têxteis”, disse, lembrando que no mesmo período as autoridades uruguaias autorizaram a exportação brasileira de mudas de eucalipto, oliveira e ora-pró-nobis.
“Este é um sinal de confiança mútua e abertura técnica entre os países, mas a unidade de pesquisa que inauguramos hoje não vai olhar apenas para o cenário comercial atual, mas para o futuro científico”, afirmou. “É a semente de uma rede de inovação que terá impacto em todos os países do Procisur. Esperamos que este acordo se torne um símbolo de ambição regional e de compromisso com a ciência, com foco na sustentabilidade”, concluiu.
Na opinião do ministro da Pecuária, Pesca e Agricultura do Uruguai, Alfredo Fratti, a cooperação vai representar o estreitamento de relações entre especialistas dos dois países de forma histórica. “Pela primeira vez teremos uma unidade da Embrapa fora do Brasil e uma unidade do INIA fora do Uruguai, trabalhando em torno de temas comuns e que vão consolidar soluções concretas para a agropecuária e para os cidadãos de ambos os países”, disse.
O chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Leonardo Dutra, destacou o marco que a primeira UMIPI internacional da Embrapa representa para a pesquisa agropecuária brasileira. Para ele, a parceria permitirá o compartilhamento de infraestrutura e competências, fortalecendo demandas comuns e ampliando a busca conjunta por recursos.
“Para a Embrapa Clima Temperado é uma grande oportunidade para trocar experiências entre instituições e países e desenvolver soluções tecnológicas de forma compartilhada. É um modelo que pode abrir caminho para novos arranjos no futuro”, avaliou.
Na opinião do pesquisador Waldyr Stumpf Junior, um dos articuladores da iniciativa, a criação da primeira UMIPI com ação internacional é um passo inédito e estratégico na cooperação científica bilateral. Ele disse que o modelo permitirá potencializar ações conjuntas em ciência, tecnologia e inovação, especialmente pela forte identidade entre os sistemas produtivos do Uruguai e do Sul do Brasil, com destaque para o Bioma Pampa, onde a Embrapa mantém quatro Unidades atuando em agendas complementares às do INIA. “Ficamos lisonjeados por termos trabalhado nesse projeto e nos sentimos orgulhosos de firmar essa parceria. Ganhamos todos: a Embrapa, o INIA, o Uruguai, o Brasil e, principalmente, a agricultura, a produção de alimentos e essa busca por sustentabilidade econômica, social e ambiental para os dois países”, afirma.
Foco em soluções
A Umipi-BR.UY terá como foco a geração de conhecimento e soluções tecnológicas que reforcem o planejamento, as tomadas de decisão e a formulação de políticas públicas de suporte às cadeias produtoras agroalimentares, à segurança alimentar e à sustentabilidade econômica, social e ambiental dos dois países. As semelhanças de condições ambientais e climáticas, bem como a competência científica da Embrapa e do INIA, estão entre os principais fatores considerados para a efetivação da unidade.
Pelo lado brasileiro, a unidade terá como representantes os pesquisadores Leonardo Ferreira Dutra, chefe-geral da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS), e Fernando Flores Cardoso, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul (Bagé, RS), ambos indicados pela Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento.
O chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Leonardo Dutra, destaca o marco que a primeira UMIPI internacional da Embrapa representa para a pesquisa agropecuária brasileira. Para ele, a parceria permitirá o compartilhamento de infraestrutura e competências, fortalecendo demandas comuns e ampliando a busca conjunta por recursos. Dutra afirmou que, como um dos pontos focais do arranjo, a Unidade irá contribuir com várias das cadeias produtivas em interface com o INIA, como horticultura e fruticultura, agroecologia, agricultura familiar, grãos e leite. “Para a Embrapa Clima Temperado é uma grande oportunidade para trocar experiências entre instituições e países e desenvolver soluções tecnológicas de forma compartilhada. É um modelo que pode abrir caminho para novos arranjos no futuro”, avaliou.
Ao comentar sobre os principais avanços esperados com a parceria, Fernando Cardoso, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, destacou o papel estratégico que a cooperação vai cumprir para o avanço da pesquisa em diversas áreas. “Da nossa parte, acho que ser protagonista no estabelecimento de um laço estratégico e posicionar o intercâmbio de pesquisa e inovação — principalmente relacionado à produção de alimentos no bioma Pampa, à vocação para a pecuária de corte, à carne de qualidade e também a outros temas de futuro, como a avaliação da sustentabilidade dos sistemas de produção, os indicadores de sustentabilidade e o uso de bioinsumos e da genética para a sanidade dos animais — são os grandes ganhos que vejo para a Embrapa Pecuária Sul nessa parceria”, destacou.
Pelo INIA, foram indicados como coordenadores da UMIPI os pesquisadores uruguaios Álvaro Roel e Verônica Ciganda. A iniciativa estava prevista em Memorando de Entendimento assinado em maio passado, que prevê, entre outras áreas, sistemas de produção animal e vegetal, sustentabilidade e meio ambiente, bioeconomia e bioprodução e intercâmbio de recursos genéticos.
A forma de atuação e as diretrizes para o início das atividades serão definidas por meio de um Comitê Gestor que será formalizado, e deverá conduzir os trabalhos pelos próximos cinco anos, período de vigência da parceria. Ao comitê também caberá a atribuição de identificar temas prioritários e oportunidades, apresentar regularmente o planejamento e os resultados das atividades da UMIPI, bem como a captação de recursos financeiros, entre outras funções.
Por ser uma unidade mista com ação internacional, está prevista sede em dois espaços: um nas dependências de uma unidade descentralizada de pesquisa da Embrapa, com caráter rotativo, e outro nas dependências do INIA, em Montevidéu, no Uruguai.
Cooperação Embrapa–INTA (Argentina)
Durante o encontro, também foi assinada a renovação da parceria entre a Embrapa e o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina (INTA). O Termo Aditivo nº 02 ao Memorando de Entendimento prorroga a cooperação por mais cinco anos, até 2030, reforçando o compromisso com projetos conjuntos de pesquisa, inovação e intercâmbio técnico. O documento atualiza os pontos de contato entre as instituições e consolida uma agenda histórica de colaboração científica entre Brasil e Argentina.
Recondução da gestão
Ainda durante a programação do encontro, ficou acordada a extensão da presidência da Embrapa na liderança do Procisur por mais alguns meses.
Silvia Massruhá assumiu o cargo inicialmente por um período de dois anos, em 1º de janeiro de 2024, tendo na vice-presidência a diretora do INIA Chile, Iris Lobo, que posteriormente foi substituída por Carlos Furche também do INIA Chile e com a pesquisadoera Cecília Gianoni como secretária-executiva.
Foi a primeira vez, em 40 anos, que a instituição foi liderada por mulheres, cujas prioridades foram o foco nas agendas de segurança familiar, climática e energética para a região, dentro do conceito da intensificação sustentável.
“A Embrapa tem sido referência na pesquisa agropecuária na América do Sul, com uma grande demanda para ajudar na cooperação Sul-Sul no cinturão tropical do planeta, visando aumentar a produção de alimentos de forma sustentável”, disse a presidente, ressaltando a assinatura da parceria com o IICA para capacitar pesquisadores da África, nas unidades de pesquisa brasileiras, e a participação da Empresa na COP 30, por meio da Casa da Agricultura Sustentável, que reuniu diversos setores e recebeu cerca de 25 mil visitantes e instituições parceiras.
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