*José Renato Nalini
Embora egresso – mas ainda imerso –
no sistema Justiça, onde permaneci por meio século, ainda tenho dúvidas sobre o
que ele representa para aprimorar a qualidade de vida humana.
Vejo um formalismo estéril, um
exagero na observância de regras ridículas, um funil que submete qualquer
iniciativa factível em desistência. Ninguém consegue vencer a burocracia dos
pareceres, das inúmeras reuniões, das minudências, da vontade de submeter o
conteúdo a uma forma sufocante.
É isso o que acontece quando o
Brasil demora em regulamentar os créditos de carbono. Quando reluta em adotar
uma nova comodity chamada “unidade de conservação”, que enfrenta incrível e
surreal resistência baseada em algo que parece a tirania da pequena autoridade.
Quantas vezes não se constata que os
verdadeiros formuladores das políticas públicas se entusiasmam com algo que
parece inovador e tende ao êxito. Mas os subalternos, aqueles que fazem parte
permanente da máquina, nos quais só falta a placa de patrimônio para que sejam
considerados semoventes, são os que atravessam o roteiro de tomada de decisão e
criam obstáculos que tornam intransponíveis.
Ao lado do crédito de carbono, a
unidade de conservação propicia ao Poder Público arrecadar fundos mediante a
venda desses títulos que representam a preservação da cobertura vegetal e que,
portanto, produzem bem intangível para todos os viventes.
Depois de inúmeras reuniões, a trava
amarga faz com que a proposta pereça, antes mesmo de ter sido implementada.
Quem será capaz de destravar a mente obscurantista de quem se considera dono da
verdade e inibe a implementação de algo que parece contrariar a lógica: propiciar
ao Poder Público ganhar dinheiro com a sua obrigação indeclinável de conservar
íntegro o ambiente natural.
Esse é um pequeno exemplo. Quantas
outras boas ideias se mumificam nos escaninhos das consciências limitadas pela
burocracia que lhes tomou a capacidade de discernir? Quem perde é o futuro do
povo brasileiro.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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