Cidadania presente



            *José Renato Nalini

            Um dos bons frutos da Constituição Cidadã de 1988 foi o fortalecimento do Terceiro Setor. Percebeu-se que o individualismo é interessante como tendência prestigiadora da dignidade de cada ser humano, mas que para tratar com o onipotente Estado é preciso articular forças. Agregar pessoas com identidade de objetivos e com núcleo comum de necessidades torna mais facilitada a tarefa de exigir do Estado o adequado cumprimento de suas obrigações.

            Resultado disso, a multiplicação de entidades associativas com as mais diversas finalidades. Uma boa experiência é aquela promovida pelo Instituto Ecobairro Brasil, que mantém programa permanente de promoção e apoio de ações que tornem as cidades mais sustentáveis e pacíficas. A disseminação de uma cultura de sustentabilidade se faz no âmbito da praticidade, não no discurso estéril e vazio de teorias inapreensíveis pelas pessoas comuns.

            Tudo a partir da Cultura de Paz, da Educação para o desenvolvimento sustentável, sob a inspiração da experiência colhida nas ecovilas. A começar pelo indivíduo, sua casa, seu bairro, sua cidade, poder-se-á chegar à compreensão dos perigos que a humanidade impôs ao planeta, único habitat disponível para a continuidade da aventura humana sobre a Terra.

            Como as pessoas nascem, vivem e morrem nas cidades, é no meio urbano que devem ser desenvolvidos os bairros sustentáveis. Fruto natural da consolidação do exercício da vida em comunidade. Uma comum união de pessoas vinculadas por interesses comuns, que podem e devem criar redes de cooperação. Nelas, a criatividade pode nascer de um diálogo cordial, entre vizinhos que tendem a se tornar amigos e a edificar o sonho da fraternidade. O constituinte de 1988 teve a coragem de instituir a fraternidade como categoria jurídica. Incumbe agora à cidadania demonstrar que isso é possível.

            Ações-semente são necessárias como evidência de que os bairros podem ser mais do que um traçado de vias públicas ocupado por moradias de pessoas que não se conhecem e não fazem questão de se conhecer. Ao contrário, a busca de harmonia propõe contínuo movimento de reconexão entre os membros desse grupo que tem a vocação de fazer com que o seu bairro se torne um exemplo de sustentabilidade. Em limpeza, embelezamento, plantio de espécies arbóreas que garantem melhor clima e a preservação da água, essencial à vida.

            Se o seu bairro ainda não for um Ecobairro, procure o Instituto Ecobairro Brasil, para que você também participe da implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, principalmente os ODS 11 e 16. Seja líder na semeadura de experiências vivas para aprimorar a convivência nesta gigantesca e complexa São Paulo, fascinante para os que verdadeiramente a amam e a escolheram como lugar para viver.

            Mas isso vale também para outras cidades. Cada município pode ter o seu Ecobairro. Em tempos de polarização, violência e ira, faz toda a diferença pregar a paz, a união, a cordialidade e a fraternidade.

 

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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