Paiva Netto
Próximo estamos do
Dia dos Mortos (2 de novembro). Mas que é ser morto ou vivo?
Muito mais falecido é
aquele que passa indiferente ao sofrimento alheio, esquecido de que o amanhã
pode trazer-lhe grande surpresa. Há muitas curvas na estrada...
Não estender auxílio
à criança desamparada, ao ancião com frio, não matar a fome do faminto, não
medicar o enfermo, não vestir os nus, não socorrer a viúva e o órfão, não
alimentar, instruir e educar o povo, mantendo-o na ignorância completa, que é
senão estar morto em vida?... Todos os que agem dessa maneira, que mais se
tornam além de cadáveres ambulantes, necessitados de libertar-se da morte moral
antes que lhes seja tarde?
Bem a propósito estas
palavras de Emmanuel (Espírito):
“Choras por aqueles que te antecederam na viagem do
túmulo. Refletes na morte como se teus passos não lhe demandassem igualmente os
portais de cinza. E misturas rogativas e lágrimas, ignorando que a sepultura é
a câmara renovadora em que todos nós retornamos para a eternidade da vida...
Sim, não te esqueças das almas queridas que te precederam na grande marcha.
Endereça-lhes teus pensamentos de esperança e carinho, que a mensagem do amor é
sempre facho de luz. Entretanto, ora também pelos que estão mortos na estrada
humana...
“Sepultado no crime.../ Cadaverizados na usura.../
Caídos na ilusão.../ Anulados na preguiça.../ Acomodados no preconceito.../
Petrificados na indiferença.../ Cristalizados no desânimo.../ Imobilizados no
fanatismo.../ Tombados no desespero.../ Segregados na violência...
“Ei-los que te defrontam por toda parte... Aqui
repousam em sarcófagos dourados, mostram-se adiante em ajardinados jazigos...
Acolá descansam narcotizados em sepulcros de sombra, mais além dormem no visco
da inércia... Ajuda-os e segue à frente, ofertando-lhes o conforto de tua prece, porque um dia, quando o sol da
verdade reaquecer-lhes o coração entorpecido nas trevas, lhes será doloroso no
mundo o estranho despertar”.
O grande equívoco da
Humanidade tem sido viver como se após a morte nada houvesse. Manter sob o véu
do mistério o conhecimento maior do único fato inarredável na existência do ser
humano é uma terrível falha das religiões na atualidade. E ninguém venha, por
favor, apressadamente dizer que estamos com a cabeça nas nuvens, como se
desprezássemos o cotidiano da vida humana. Nada disso!
Como escrevemos
nas Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus,
do Cristo e do Espírito Santo (vol. 1), temos plena consciência de que
o grande segredo da vida é, amando
a vida, saber preparar-se para a morte, ou vida eterna. Por isso, com
insistência, Alziro Zarur (1914-1979)
alertava que “o suicídio não resolve
as angústias de ninguém”.
Tenho amigos ateus
que não creem na Eternidade. E nem por isso deixaremos de ser amigos. A todos
eles a minha saudação fraterna. Contudo, nada custa pensar, um pouco que seja,
na possibilidade de a vida prosseguir além do túmulo... Isso é sinal de
inteligência e de se possuir a mente livre de algemas. Muita vez, a grande
descoberta tem como primeiro passo a negação...
Antes de terminar,
estas ilustrativas duas últimas quadrinhas do “Poema do Imortalista”, de Alziro
Zarur:
“Amigos, por favor, não suponhais/ Que a morte seja o
fim de nossa vida;/ A vida continua, não jungida/ Aos círculos das rotas
celestiais.
“Os mortos não estão aí, cativos/ Nos túmulos que
tendes ante vós:/ Os finados, agora, são os vivos;/ Finados, mais ou menos,
somos nós”.
A Verdade é que, um
dia, em variadas condições, uns bem ou outros nem tanto, todos nós, crentes ou
incrédulos, nos encontraremos lá na Pátria Espiritual, a fim de prestarmos
contas do que fizemos na Terra. Afinal, os mortos não morrem!
José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com
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