*José Renato Nalini
Celebram-se vitórias, não derrotas.
Assim, não há o que celebrar quando se noticia que o desmatamento na Amazônia
cai 42% no primeiro trimestre de 2024. Isso porque, no primeiro trimestre de
2023, a destruição levou 844,6 km2 e agora foram “só” 491,8 quilômetros
quadrados.
Na verdade, uma derrota da natureza,
que vai desaparecendo sem que a indignação atinja toda a sociedade civil, que é
vítima das mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global, causado
pela extinção do verde.
O encadeamento dessa tragédia é
claro e comprovado. Os cientistas já exauriram sua voz para alertar a
humanidade. Esta resta inerte. Salvo algumas exceções de quem brada no deserto
de atitudes, a maioria não toma conhecimento do drama. O cerrado chegou ao mais
alto patamar de extinção. Foram 1.445,6 quilômetros quadrados. Uma área
equivalente à cidade de São Paulo.
E por falar na cidade de São Paulo,
o extremo sul, onde se encontram as últimas nascentes que abastecem a represa
do Guarapiranga, também é vítima de ocupação indiscriminada e de célere
derrubada da cobertura vegetal que garante água para mais de 30%. Não é
diferente em outras cidades do nosso Estado, que já perdeu quase toda a sua
Mata Atlântica.
Isso mostra que todos os biomas
estão sendo devastados. É hora daqueles que têm dinheiro e poder acordarem e se
disporem a adotar nascentes, glebas ainda passíveis de restauração, para que
não cheguemos ao ponto irreversível de um desastre total.
Todos sabem que a cobertura vegetal
não é panaceia, mas ajuda a mitigar os efeitos dessas mudanças bruscas de
temperatura, a ajudar a escoar a água das precipitações extremas, outro fenômeno
decorrente das mudanças climáticas e a melhorar o nível do sumidouro de carbono
na atmosfera.
O mundo precisa de um trilhão de
árvores. O Brasil de um bilhão. A capital de um milhão. Se cada habitante dessa
conurbação de concreto se dispusesse a plantar uma árvore, a situação seria
outra. Isso é que deve merecer a atenção de todos, não a celebração de uma catástrofe
que continua em estágio incompatível com a qualidade de vida e com a
subsistência da experiência humana sobre este planeta.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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