1 em cada 4 pessoas terá problemas auditivos no mundo: saiba como evitar

 Segundo a OMS, em 27 anos, mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo terão problemas auditivos, o que pode levar a problemas de saúde físicos e mentais; Microsom e Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) lançam campanha "Já foi ao seu otorrino esse ano?" para conscientizar a população brasileira do cuidado com a saúde auditiva.




São Paulo, fevereiro de 2023
 - Desde 2021, quando lançou o Relatório Mundial da Audição, a OMS (Organização Mundial da Saúde) vem alertando sobre a importância de cuidar da saúde auditiva, indicando números alarmantes. Segundo a organização, até 2050, 1 em cada quatro pessoas no mundo terá problemas auditivos, o que significa 2,5 bilhões de pessoas. 

Hoje essa população é de 1,5 bilhões, ou seja, em 27 anos, serão mais 1 bilhão de pessoas enfrentando perda auditiva, muitas delas jovens, na faixa entre 12 e 35 anos. Maria Branco, fonoaudióloga da Microsom, explica que dois fatores principais contribuirão para esse aumento: o envelhecimento geral da população, e o uso excessivo de dispositivos individuais em jovens. 

"À medida que a população está vivendo mais, teremos mais pessoas com perda auditiva, uma vez que é algo que acontece com mais frequência em grupos acima dos 60 anos de idade”, comenta a especialista. “Além disso, os jovens colocam cada vez mais a audição em risco ao se exporem excessivamente a sons intensos, desde ambiente como shows e festas em casas noturnas, até os dispositivos de uso individual para transmissão de som, que são os fones de ouvido”, complementa. 

Já foi ao seu otorrino esse ano?

Segundo o relatório da OMS, a falta de informações precisas e atitudes estigmatizantes em relação às doenças do ouvido muitas vezes impedem as pessoas de ter acesso a cuidados adequados. 

Maria explica que, mesmo com esse cenário de crescimento da perda auditiva, ainda não é comum que as pessoas incluam um especialista em audição em seus check-ups anuais. “A audição deve ser avaliada regularmente ao longo da vida. Portanto, incluir um especialista no check-up anual é um fator primordial para que os idosos envelheçam com saúde e os jovens mantenham sua audição sem grandes prejuízos”, explica a fonoaudióloga.

Foi em busca de conscientizar as pessoas para esse crescente número que a Microsom, em parceria com a Sociedade Brasileira de Otologia (SBO), criou a campanha “Já foi ao seu otorrino esse ano?”. 

O objetivo é mostrar para a população brasileira que o declínio na audição pode atingir qualquer um, e seu impacto é muito negativo para a saúde, podendo contribuir para problemas mais severos, como a aceleração do declínio cognitivo (demência). “A campanha busca sensibilizar as pessoas para que avaliem a audição e saibam se estão desenvolvendo uma perda auditiva ou não. Porque quanto mais cedo isso for diagnosticado, melhor será o prognóstico e o tratamento”, reforça.   

Qualidade de vida 

Seja por medo de precisar de aparelhos auditivos, ou por não sentir um impacto imediato na vida, a população adia, ou até mesmo ignora a visita a um otorrinolaringologista. E as consequências disso a longo prazo podem ser graves, inclusive debilitantes. 

“A deficiência auditiva está relacionada a outras questões de saúde. Já existem dados que indicam que a perda está ligada ao declínio cognitivo mais acelerado. Para viver mais e melhor, é preciso cuidar da audição”, comenta a especialista. 

A deficiência auditiva tornou-se uma prioridade para a Organização Mundial de Saúde e assim foi criada a Lancet Commission for Global Hearing Loss, com o objetivo de fomentar discussões sobre políticas públicas de prevenção e tratamento da perda auditiva. Segundo esta comissão, a perda auditiva está na lista dos fatores de risco modificáveis – ou seja, que podem ser controlados na tentativa de prevenção das demências. Modificar estes fatores de risco pode prevenir ou atrasar até 40% as demências e, com relação à perda auditiva, é preciso incentivar o uso de próteses auditivas e proteger a audição evitando a exposição excessiva ao ruído.

Além do declínio cognitivo, que está ligado à demência, os problemas auditivos ainda podem levar a outros transtornos relacionados à saúde mental. O isolamento causado pela deficiência faz com que as pessoas percam habilidades sociais, levando o indivíduo à depressão, por exemplo. 

Outro fator que pode prejudicar a qualidade de vida, especialmente em idosos, é a possibilidade de quedas. Segundo Maria, estudos apontam que pessoas com perda leve têm três vezes mais chances de sofrer quedas, o que na população mais velha, pode acarretar outros problemas físicos. 

“Quanto mais tempo o indivíduo viver com a perda auditiva sem tratamento, sem o uso de aparelhos, maior será o impacto negativo na sua vida, tanto no aspecto relacionado à qualidade de vida, quanto nas questões relacionadas ao declínio cognitivo”, destaca Maria. 

Quebrando tabus

A própria OMS reconhece que o estigma relacionado ao uso de aparelhos auditivos é um impedimento para que as pessoas façam o tratamento adequado para prevenir a perda auditiva. As pessoas ainda relacionam esses dispositivos com algo antiquado, grande, que incomoda, mas essa visão precisa mudar, pois hoje a tecnologia oferece produtos muito mais modernos. 

“Existe um estigma em relação ao uso de aparelhos, mas isso cai por terra quando vemos os dispositivos modernos, que têm inteligência artificial e uma série de recursos que melhoram significativamente a qualidade sonora entregue para esses indivíduos”, explica a fonoaudióloga.

Os equipamentos disponíveis no mercado atualmente oferecem muitas customizações, que permitem um ajuste adequado para cada pessoa. “Por meio de aplicativos, os usuários podem controlar e personalizar o som segundo a sua sensibilidade e desejo”, complementa Maria. 

Ainda segundo o relatório da OMS, “as tecnologias auditivas, como aparelhos auditivos e implantes cocleares, quando acompanhadas por serviços de suporte adequados e terapia de reabilitação, são eficazes e econômicas, e podem beneficiar crianças e adultos”. 

Ainda assim, somente no Brasil, 20% das pessoas que deveriam utilizar aparelhos auditivos o fazem. Enquanto novos estudos ainda são feitos e a comunidade científica segue descobrindo consequências da perda auditiva, um cuidado regular pode contribuir para a saúde e bem-estar da população a longo prazo. 

Sobre a Sociedade Brasileira de Otologia - Fundada em 1969, a Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) congrega os médicos especializados e atuantes em Otologia, ramo da medicina que estuda a anatomia, fisiologia e as doenças do ouvido. Dedica-se à valorização da medicina, em prol da saúde auditiva. Ao longo de mais de 50 anos atua na prevenção de doenças que limitem a audição das pessoas e combate o excesso de barulho da sociedade moderna, além de promover a Campanha de Saúde Auditiva.

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