Qualidade de vida: Fibromialgia atinge mais as mulheres e não tem cura, mas tratamento não-invasivo alivia dor e combate a depressão

  

Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) é terapia eficiente contra doença que afeta a musculatura e provoca dores no corpo

 


Crédito: Matheus Campos
: Dra. Juliana Zuiani, neurocirurgiã


 

Dores no corpo, sinais de cansaço, ansiedade, alterações intestinais e no sono são alguns dos sintomas da fibromialgia, doença que atinge cerca de 2% da população mundial e, por motivos ainda desconhecidos, é mais frequente em mulheres. “Não há cura para a fibromialgia, mas é muito importante que as pessoas com sintomas procurem um médico o quanto antes para ter um diagnóstico preciso e iniciar um tratamento”, alerta a Dra. Juliana Zuiani, neurocirurgiã de Campinas. Embora não leve à morte diretamente, essa doença reumatológica pode ser devastadora para a qualidade de vida do paciente porque está associada à depressão.


De sete a nove entre cada dez pacientes com fibromialgia são mulheres e a ciência ainda não conhece os motivos para isso. Aparentemente, não há relação com hormônios porque o problema aparece antes e depois da menopausa. A fibromialgia geralmente afeta pacientes entre os 30 e 60 anos, mas há casos registrados tanto em pessoas mais velhas como também em crianças e adolescentes.


Como a fibromialgia é uma doença reumatológica que afeta a musculatura, seu principal sintoma é a dor. Mas a doença também provoca fadiga, sono não reparador (o que faz com que a pessoa acorde cansada), lapsos de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais. Um sinal característico do paciente com fibromialgia é a grande sensibilidade ao toque e à compressão da musculatura.


A medicina ainda não detectou a causa principal da fibromialgia, mas estudos recentes apontam que os pacientes com a síndrome apresentam uma sensibilidade maior à dor do que as pessoas sem a doença. É como se o cérebro estivesse “desregulado” e ativasse todo o sistema nervoso para fazer a pessoa sentir mais dor. Na prática, cérebro, medula e nervos fazem que qualquer estímulo doloroso tenha mais intensidade.

 

Alarme


De um modo geral, a dor é um alarme do corpo e indica onde a pessoa deve combater uma lesão, por exemplo. Nas pessoas que possuem essa síndrome, o “alarme” dispara sem motivo, mesmo quando não há nenhuma lesão na periferia do organismo. É essa dor permanente que provoca outros problemas, como alteração do sono e do humor.


A fibromialgia não tem cura, mas há diversas formas de se controlar a doença. Entre os tratamentos no momento estão o medicamentoso, a fisioterapia, a acupuntura, a prática regular de atividades físicas, o acompanhamento psicológico e a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT).


 

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Crédito: Matheus Campos
 Dra. Juliana Zuiani durante consulta com paciente no seu consultório

Não invasivo


A EMT atua diretamente no alívio da dor e alcança seu objetivo alterando o sistema de interpretação da dor pelo sistema nervoso. “Por ser não-invasiva, a neuromodulação é um excelente método de tratamento, já que além de trazer alívio físico ao paciente, também apresenta melhoras nos sintomas depressivos. A capacidade de atuar nessas duas frentes traz uma significativa melhora na qualidade de vida de quem tem fibromialgia”, detalha a Dra. Juliana.


O tipo de tratamento e o alvo da estimulação são definidos após uma detalhada avaliação do paciente, uma vez que cada um apresenta uma queixa principal e tem suas particularidades em relação aos sintomas. A aplicação da técnica foi aprovada no Brasil há dez anos, mas ainda é pouco conhecida e de difícil acesso. Em Campinas, o tratamento é realizado em poucos consultórios particulares, entre eles o da Dra. Juliana Zuiani. No serviço público de saúde, está disponível em alguns centros de referência, como o Instituto de Psiquiatria da USP, em São Paulo.

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Crédito: Vanessa Galina
Modelo posa para demonstração da aplicação a EMT pela Dra. Juliana Zuiani


A EMT funciona com um aparelho colocado na cabeça do paciente durante a sessão de tratamento. Similar a um capacete, ele emite pulsos magnéticos que atuam sobre o cérebro, sem necessidade de processos invasivos e sem causar dor. O paciente fica acordado durante o tempo todo e já pode voltar normalmente para casa ao final de cada sessão. A técnica, garante a Dra. Juliana, é segura e não apresenta efeitos colaterais. “Alguns pacientes relatam um pequeno desconforto durante o procedimento, mas, diferentemente de outras terapias, a EMT não acarreta prejuízos à cognição”, destaca ela.


Além da fibromialgia, a Estimulação Magnética Transcraniana também é utilizada no tratamento de outras doenças, como depressão, dor crônica, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), afasia, sequelas de AVC, Parkinson, distonia, transtorno do espectro autista (TEA) e tremor essencial.

 
“Os tratamentos são diferentes porque para cada doença há parâmetros de estimulação, direção de posicionamento do equipamento no crânio, intensidade do estímulo magnético e tempo médio das sessões específicos”, explica a Dra. Juliana.


O primeiro passo para esse tipo de tratamento é uma consulta de avaliação. Neste primeiro encontro, o médico avalia se a EMT trará benefícios ao paciente e se há alguma contraindicação para a aplicação. O tratamento dura cerca de quatro semanas, com sessões diárias de cerca de 20 minutos cada. Apenas a primeira sessão é um pouco mais demorada, cerca de meia hora, para que sejam feitas as medidas e marcações para estimular a área correta do cérebro. “Os dados são registrados em uma touca que será usada pelo paciente até o fim do tratamento”, detalha a especialista. Os parâmetros da estimulação são reavaliados semanalmente.

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