Lucidez bíblica e coragem profética


 

Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

Pesquisas do Instituto Pró-Livro, cuja missão é “contribuir para que o Brasil se torne um país de leitores”, demonstram que a Bíblia tem sido o livro mais lido neste país. É bom sinal. No entanto, somente sua leitura não é garantia de bom entendimento. Ela necessita ser estudada, pois contém 73 livros escritos em contextos e com estilos literários muito diversos. Ademais, sendo fonte inspiradora para a fé, deve ser também interpretada de modo significativo desde e para os diferentes contextos dos leitores.

Ler os textos bíblicos sem estudá-los pode gerar equívocos de interpretação, afinal Deus não os escreveu diretamente. Seus autores expressaram vivências de fé que, ao longo de um milênio se traduziram em “revelação de Deus” culminada em Cristo, filho de Deus encarnado. O evangelista João se refere a ele como Palavra de Deus, afirmando que “a Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). Segundo a Carta aos Hebreus, a Palavra de Deus viva e eficaz (cf. Hb 4,12) se manifesta plenamente em Cristo.

Ele é o centro das Sagradas Escrituras, o Alfa e o Ômega, ou seja, o Princípio e o Fim (cf. Ap 22,13). Por isso, João, o evangelista, afirma: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (Jo 1,1-2). “Ela era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, a todos ilumina. Estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a conheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não a receberam. A quantos, porém, a receberam, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,9-12). 

Devemos, pois, ler e estudar as Sagradas Escrituras com nossas mentes e corações em Cristo. Aliás, São Jerônimo, exímio estudioso da Bíblia, no século IV, ressaltou a importância de se conhecer as Sagradas Escrituras para se conhecer a Cristo: “com efeito, ignorar as Sagradas Escrituras é ignorar a Cristo”. São Jerônimo traduziu a Bíblia para o Latim, popularizando-a. Ele é comemorado em 30 de setembro, quando então, a Igreja no Brasil celebra o Dia da Bíblia e, por isso, adotou setembro como Mês da Bíblia.

A comemoração da Bíblia nesse mês tem por objetivo incentivar-nos a lê-la e estudá-la, bem como meditá-la como Palavra de Deus e rezarmos com ela, para a colocarmos em prática. Para Jesus, os que a ouvem e a colocam em prática se tornam sua família (cf. Lc 8,21) e são felizes (cf. Lc 11,28). Quanto mais conhecemos e entendemos a Palavra de Deus, mais a amamos, melhor a vivemos e a comunicamos. O mundo necessita de nosso profetismo inspirado na Palavra de Deus. Deus nos chama a anunciá-la sem medo.

Os humildes a acolhem (cf. Mt 11,25). Os poderosos a rejeitam. Fariseus, por exemplo, queriam que Jesus repreendesse o profetismo de seus discípulos. “Se eles se calarem, as pedras clamarão” (Lc 19,40), disse-lhes Jesus. A Deus ninguém cala. De um jeito ou outro ele fala. “Fala Senhor, teu servo te escuta” (1Sm 3,10). Que essas palavras do profeta Samuel sejam também nossas. Disponhamo-nos, pois, a estudar a Bíblia com lucidez, para, enfim, vivermos e anunciarmos a Palavra de Deus com coragem profética. 



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