A crise no abastecimento de água em São Paulo é um problema
anunciado há muito tempo. No entanto, de um ano para cá, quando os primeiros
sinais começaram a surgir (especialmente a alarmante queda do nível de água dos
principais reservatórios, como o Cantareira) é que o problema passou a chamar
mais a atenção. Porém, durante esse período, enquanto especialistas em
saneamento e autoridades discutem a necessidade de haver rodízio no
abastecimento e eventuais meios de punir e coibir o desperdício de água por parte
da população, antes de se chegar a total escassez, outro sério problema vem se
repetindo por várias cidades do país e pouco, ou quase nada, tem sido feito
para resolvê-lo: a mortandade de peixes provocada pela seca ou contaminação de
lagoas, rios, açudes ou mananciais.
Um dos lugares atingidos pela falta de chuva, a Lagoa
Maravilha, em Serrana, na região de Ribeirão Preto, secou no mês de setembro e
milhares de peixes morreram sobre a terra. Entre tantos outros casos, também no
interior do Estado paulista, a estiagem fez com que o índice de poluição do Rio
Piracicaba aumentasse em até cinco vezes acima do aceitável e quase uma
tonelada de peixes morreu, no final do ano passado. “Embora o nível dos
principais reservatórios tenha se elevado no mês de fevereiro e até se mantido
estável nos últimos dias, o cenário ainda é muito ruim e preocupante. A crise
deve se agravar com a falta de chuvas e com isso a queda progressiva dos níveis
de água dos principais reservatórios pode provocar um desastre ambiental sem
precedentes”, alerta Luiz Eloy Pereira, presidente do Conselho Regional de
Biologia de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (CRBio-01). O biólogo explica que a principal causa da mortandade dos peixes nos rios que estão secando é a consequente falta de oxigênio na água. “Quando o volume diminui, a capacidade de diluição dos poluentes na água dos rios e reservatórios cai drasticamente, fazendo com que a concentração de oxigênio dissolvido na água também diminua. Quando a quantidade de oxigênio dissolvida na água chega a 2mg/l é já extremamente preocupante. Em alguns casos recentes, verificou-se que essa quantidade chegou a apenas 0,3 mg/l”, conta o presidente do CRBio-01. “O aumento do volume pluviométrico está entre uma das soluções esperadas para ajudar a diminuir este problema. Mas, se para combater o desperdício de água tem se pensado tanto em outras soluções a se tomar, é necessário que também se criem medidas urgentes e verdadeiramente eficazes de combate à poluição e à preservação das nossas reservas hídricas”, conclui Pereira.
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