Pesquisadores batizam nova espécie de anfíbio da Mata Atlântica em homenagem ao presidente Lula


Pequeno anfíbio de montanha, de coloração intensa, foi descrito na revista científica PLOS ONE em artigo publicado por uma equipe internacional liderada por docente da Unesp



Divulgação Labin / IB-CLP

Uma nova espécie de pequeno anfíbio de montanha foi descrita na revista científica PLOS ONE, em um artigo publicado por uma equipe internacional liderada pelo professor Marcos Bornschein, do Instituto de Biociências da Unesp, câmpus do litoral paulista. O animal pertence ao gênero Brachycephalus, grupo de pequenos sapos diurnos que vive oculto abaixo da serrapilheira da Mata Atlântica, do Nordeste ao Sul do Brasil.

Apesar do tamanho diminuto, menos de 18 milímetros, esses anfíbios chamam a atenção pela coloração vívida, redução no número de dígitos e deslocamento muito lento. Com a novidade, o gênero passa a contar com 44 espécies reconhecidas, sendo que 37 delas foram descritas neste século. O artigo científico foi publicado na última quarta-feira, dia 10.

“Os Brachycephalus vivem em locais de difícil acesso e são muito mais fáceis de ouvir do que de ver. Então, saber como produzem seus cantos de anúncio foi essencial para o recente aumento na descrição de novas espécies”, explica Marcos Bornschein, primeiro autor do artigo. “Por muito tempo, se achou que os sons que ouvíamos na floresta eram de grilos, jamais de pequenos anfíbios”, complementa Bornschein.

A nova espécie recebeu o nome Brachycephalus lulai em homenagem ao atual Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo os autores, a escolha do nome busca não apenas reconhecer sua trajetória, mas também conclamar o Presidente para a intensificação de ações de conservação da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do planeta e, muitas vezes, ofuscado pelo foco internacional na Amazônia.

O trabalho é resultado de quase uma década de pesquisas e está no bojo dos esforços de pesquisadores de várias instituições brasileiras que apoiam a criação de um parque nacional para proteger a nova espécie e outras ameaçadas da Serra do Quiriri, localizada no norte de Santa Catarina, divisa com o Paraná, e um dos fragmentos preservados da Mata Atlântica.

O estudo contou com a participação de 11 pesquisadores de quatro países diferentes: o Instituto de Biociências do câmpus do litoral paulista da Unesp e a Universidade Federal do Paraná como instituições brasileiras, e universidades do Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha. “Foram necessários nove anos de estudo desde a descoberta da espécie, em novembro de 2016, até sua descrição formal”, destaca o pesquisador Luiz Fernando Ribeiro, da Universidade Federal do Paraná, um dos autores do artigo.

Segundo Marcos Bornschein, essa é a descrição mais completa de um Brachycephalus do sul do Brasil, região que abriga metade de todas as 44 espécies conhecidas do gênero. A dificuldade histórica em diferenciar essas espécies foi superada por meio de análises detalhadas da coloração de exemplares vivos e preservados, além do estudo comparativo dos cantos de anúncio de todas as espécies da região.

A colaboração internacional permitiu uma abordagem integrada, abrangendo morfologia, anatomia, esqueleto, bioacústica, filogenia molecular e aspectos ecológicos da nova espécie. Os autores também analisaram a história ambiental que influenciou a distribuição dos Brachycephalus na Mata Atlântica. Os resultados indicaram que essas espécies passaram a ocupar os topos de montanhas à medida que o clima se tornou mais quente e úmido no passado, estabelecendo-se em florestas nebulares. Atualmente, esse tipo de floresta ainda está avançando sobre os campos de altitude devido à mudança climática.

Grande parte da pesquisa foi financiada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Em consonância com a missão dessa instituição, o artigo dedicou uma atenção especial às questões de conservação. “Além de propormos a criação de uma unidade de conservação na Serra do Quiriri, também efetuamos a avaliação do status verde de cada espécie do sul do país, permitindo diagnosticar o quanto medidas de conservação já implementadas foram eficientes e quanto as espécies dependem de medidas adicionais de proteção”, destaca a coautora do artigo Giovanna Sandretti-Silva, egressa da Unesp que hoje está ligada à University of Oldenburg, da Alemanha.

O status verde é uma proposta de análise da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês), formulada em 2021. Essa ferramenta foi aplicada no Brasil até o momento apenas pelo Laboratório de Ambientes Insularizados (LABIN), da Unesp em São Vicente, mas acredita-se que será amplamente difundida pelo benefício dos resultados. O artigo está disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0334746.

 

 

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