*José Renato Nalini
Pouca atenção se dá à irreparável
perda de áreas naturais que o Brasil sofre a cada dia. O ufanismo irresponsável
diz que temos a maior floresta tropical do planeta, o Pantanal, que é a zona
mais úmida do globo, uma lei florestal ambiciosa. Mas continuamos a fabricar
desertos.
É o que resulta da constatação do
Mapbiomas, organização que estuda o uso da terra e que se baseia em dados
científicos, produzidos por satélites. Em quarenta anos, entre 1985 e 2024, o
país perdeu 111,7 milhões de hectares de áreas naturais. Foram destruídas e
transformadas para outros usos. Isso é o equivalente a 13% do território
nacional e representa uma área superior à da Bolívia.
Em média, a perda foi de quase 3
milhões de hectares por ano. Até 1985, ao longo de quase cinco séculos, o
Brasil converteu 60% de toda a área hoje ocupada pela agropecuária, mineração,
cidades, infraestrutura e outros usos antrópicos. Já os 40% restantes ocorreram
em apenas quatro décadas.
Hoje, 32% da área brasileira é
destinada à agropecuária. O Brasil já tem mais gado do que gente. Será que vale
a pena investir tanto na criação de bovinos, cuja carne vermelha é também fonte
de tantas comorbidades, a começar pelo câncer?
Quase quarenta milhões de hectares
de áreas naturais se transformaram em pastos. Não se tem notícia de quantos
hectares já foram exauridos e abandonados. Áreas que precisariam ser
restauradas, mas que ainda estão devastadas. Incrível que se adote o ano de
2030, daqui a pouco, para o “desmatamento zero”, como se houvesse tempo para
essa criminosa tolerância que compromete o destino da própria humanidade nos
anos vindouros.
Essa errática ocupação do solo
coincidiu com o período de maior seca no Brasil. Em 2024, o Pantanal registrou
seu mais fraco ciclo de inundação, desde 1985. O agravamento da seca faz mais
próxima a escassez hídrica muito grave e o mais sério é a falta de consciência
e de responsabilidade que campeiam neste espaço precioso que se tornou o mais
cruel exemplo de devastação.
*José
Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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