Pais, entendam: o problema dos seus filhos não é a tela do celular

 por Raquel Tresso é Diretora do Colégio XV de Abril



Nas últimas semanas, matérias do G1 e da Forbes reacenderam um debate urgente: a saúde emocional de crianças expostas precocemente ao celular. O G1 apresentou um estudo que mostra que o acesso ao primeiro smartphone antes dos 12 anos aumenta o risco de depressão, obesidade, ansiedade e noites mal dormidas. Já a Forbes destacou como o excesso de tempo de tela altera o funcionamento do cérebro, reduzindo atenção, memória e capacidade de autocontrole.

Os dados são alarmantes, mas é preciso ir além da superfície: o problema dos seus filhos não é a tela: é a ausência de preparo emocional para lidar com ela.

A tecnologia, por si só, não é inimiga. Ela se torna um risco quando substitui vínculos, limites e habilidades socioemocionais que deveriam ser construídas desde cedo. Uma criança que não compreende seus sentimentos, que não desenvolve tolerância à frustração ou que não aprende a pausar e refletir naturalmente buscará na tela o alívio imediato que não encontra dentro de si. Como afirma Augusto Cury, “uma mente sem gestão emocional é refém dos estímulos externos”. E o celular é o estímulo perfeito: rápido, constante e viciante.

Por isso, proibir ou restringir não resolve o problema na raiz. Educar emoções resolve. E este é um trabalho compartilhado entre família e escola. Pensando nisso, o Colégio XV de Abril, junto ao programa Escola da Inteligência, estará alinhado em 2026 para fortalecer esse cuidado. Mais do que ensinar conteúdos, o programa desenvolve habilidades como autocontrole, empatia, responsabilidade digital e pensamento crítico: pilares fundamentais para que crianças e adolescentes tenham uma relação saudável com a tecnologia.

Quando um aluno aprende a entender suas emoções, administrar frustrações e organizar pensamentos, ele não precisa da tela como fuga. Ele usa a tecnologia com consciência e não como dependência. E, nesse processo, os pais também são fundamentais: uma família emocionalmente presente forma crianças emocionalmente fortes.

A tecnologia não é vilã. Ela apenas expõe fragilidades que sempre existiram, mas que hoje se tornam impossíveis de ignorar. Não controlamos o ritmo do mundo, mas podemos preparar nossos jovens para caminhar nele com equilíbrio, responsabilidade e força interior.

No fim das contas, o celular é apenas um objeto. O que realmente forma ou fragiliza uma criança é o que acontece dentro dela. E é isso que, juntos, escola e família, temos o compromisso de fortalecer.

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