Mais um Natal para nós

 



            *José Renato Nalini

            Motivo para o sentimento de gratidão. Quantos não chegaram a este 25 de dezembro de 2025! Foi-se, neste ano, o afável e ecológico Papa Francisco, que tornou o ano jubilar e foi um exemplo de resiliência e de fortaleza na fé.

            Mas e nós? Como estamos para celebrar a chegada do Menino Jesus? Será que nos lembramos de alguma coisa do tempo do advento, quando se falou do “precursor”, primo de Jesus, filho de Isabel, o João Baptista que se dizia indigno de “desatar as correias do Cristo?”.

            O que ele pregava? A necessidade de um batismo além daquele que usa água. Um batismo de verdade, uma conversão íntima. Um arranjo do coração humano, empedernido e frágil, para torná-lo apto a receber a salvação.

            João Baptista se vestia com pele de camelo, se alimentava de gafanhotos e mel. Vivia no deserto. Metáfora para grande parte de nós, que embora sedentos de uma crença, nos comportamos como se fôssemos eternos e não nos esperasse um Juízo Final.

            Natal é tempo de reflexão. Infelizmente, o consumismo nos mergulhou no supérfluo e na superficialidade. Estamos preocupados com os presentes. Fazemos listas daqueles que merecem um agrado nosso. Procuramos não esquecer. Mas nos esquecemos do principal: do aniversariante!

            O que significa Natal? Aniversário de Jesus Cristo, alguém que existiu historicamente, mas que para bilhões de humanos, é o próprio Deus encarnado, que nos abre as portas da eternidade.

            Aquele que nos receberá um dia e a quem poderá nos dizer: - Quem é você que Eu não conheço? Não me lembro daquilo que você fez pelos seus irmãos, principalmente os mais necessitados. Frequentar templos, fazer orações, portar-se com dignidade é insuficiente. É necessário, mas não o bastante.

            Somos egoístas por natureza. Para muitos de nós, a caridade se resume à doação de tostões e de roupa velha. Isso não é caridade.

            Neste Natal, quantas pessoas não estão sozinhas? Quantas não esperam um abraço, uma palavra de carinho, uma pequena mostra de afeição? Somos incapazes de partilhar aquilo que temos e temos em abundância?

            É dia de fazer um exame de consciência. Bem sério, bem consistente, bem rigoroso. Como é que tem sido a nossa vida? Ainda temos inimizades? Ainda curtimos ressentimentos? Ainda detestamos o próximo (como há próximos que parecem existir apenas para nos “santificar”, de tão incômodos e molestos eles são...), ainda falamos mal das pessoas? Ainda é difícil perdoar?

            Quem de nós pode bater no peito, como o fariseu, e clamar: - “Senhor! Ainda bem que não sou como esse infeliz, à margem da vida! Cumpro com minhas obrigações! Sou um cidadão prestante! Sou um cristão exemplar!”.

            Raça de víboras, sepulcros caiados, como somos pretensiosos! É o momento de conferir outro rumo ao que nos resta de existência terrena. Não sabemos o que nos está reservado. Mas sabemos o que temos de fazer.

            Arrumemos nossa alma para que nela o Menino que não encontrou espaço para nascer, a não ser numa estrebaria, seja acolhido, acalentado e protegido. Na verdade, Ele é que nos acolhe, acalenta e protege, se formos fieis ao que nos trouxe como boa nova!

            Feliz Natal a todos! O Natal do Jesus Menino, o Natal da família, da fraternidade, da harmonia e da paz! Esse o  verdadeiro significado do Natal!

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.  

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