Lagos do São Francisco gerou quase R$ 3,00 em benefícios sociais para cada Real investido

 


Photo: Francisco Evangelista


Ao longo de cinco anos, 508 produtores rurais foram diretamente atendidos pelo projeto e mais de 5,2 mil pessoas participaram de capacitações, dias de campo e eventos técnicos. Na foto, capacitação em apicultura


  • Avaliação de impacto aponta que valor social total gerado pelo projeto alcançou R$ 20,5 milhões, a partir de um investimento de R$ 7 milhões. 
  • Iniciativa da Embrapa transformou a produção de 508 agricultores em 12 municípios de quatro estados do Nordeste, no período de 2019 a 2024.
  • Benefícios incluem avanços econômicos, ambientais, motivacionais e redução de insegurança financeira.
  • Campos de Aprendizagem Tecnológica impulsionaram a adoção de técnicas produtivas e a recuperação ambiental nas propriedades e nos municípios.
  • Rede de instituições públicas e privadas garantiu capacitações, insumos e fortalecimento das cadeias locais.

 

Um estudo de avaliação de impacto realizado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) revelou que o Projeto Lagos do São Francisco, executado entre 2019 e 2024 pela Embrapa Semiárido (PE), gerou R$ 2,92 em benefícios sociais para cada R$ 1,00 investido. Com base na metodologia internacional SROI (Retorno Social do Investimento), os avaliadores estimaram que o valor social total gerado pelo projeto alcançou R$ 20,5 milhões, a partir de um investimento de R$ 7 milhões.

Financiado pela AXIA Energia (antiga Eletrobras Chesf), com parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e apoio das prefeituras locais, o projeto teve como foco o fortalecimento da agricultura familiar e a promoção de práticas produtivas sustentáveis. As ações transformaram a realidade de comunidades rurais de 12 municípios localizados no entorno das barragens do Rio São Francisco, abrangendo os estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe.

Ao longo de cinco anos, 508 produtores rurais foram diretamente atendidos pelo projeto e mais de 5,2 mil pessoas participaram de capacitações, dias de campo e eventos técnicos. Além dos agricultores e suas famílias, os impactos positivos também foram sentidos pelos técnicos agropecuários envolvidos na execução das atividades.

Foto: Francisco Evangelista (dia de campo)

Retorno social e transformação no campo

O levantamento realizado com 265 produtores revelou avanços em múltiplas dimensões. Dentre os entrevistados, 78% afirmaram ter melhorado a alimentação da família, 85% disseram sentir-se mais seguros financeiramente e 74% expressaram redução da preocupação com dívidas e escassez de recursos.

Na esfera de bem-estar individual e social, entre os resultados observados, 97% dos beneficiados relataram satisfação por compartilhar conhecimentos com outros agricultores, 94% sentiram maior motivação para o trabalho, e 91% passaram a enxergar com mais otimismo a possibilidade de viver da própria produção.

Além dos ganhos sociais e econômicos, o projeto também gerou impactos ambientais: mais da metade dos participantes (56%) passou a preservar ou reflorestar novas áreas em suas propriedades, incorporando práticas agroecológicas e uso racional da água. Essas mudanças foram impulsionadas pelos Campos de Aprendizagem Tecnológica (CATs), áreas demonstrativas implantadas nas propriedades com apoio técnico e fornecimento de insumos.

Os técnicos agropecuários também relataram benefícios diretos. Todos os entrevistados (100%) declararam aumento na motivação, no reconhecimento profissional e na satisfação pessoal por contribuir para o desenvolvimento dos produtores.

Para o coordenador do projeto, o pesquisador da Embrapa Semiárido Rebert Coelho, os resultados superaram as expectativas e demonstram que a Embrapa segue no caminho certo ao promover o desenvolvimento sustentável em diferentes realidades produtivas.

“O Lagos do São Francisco teve foco na agricultura familiar, que representa uma parcela essencial dos produtores do País. No Semiárido, esse trabalho ganha ainda mais relevância, por atender comunidades historicamente desassistidas. O projeto mostrou que, com articulação institucional, tecnologias, assistência técnica e protagonismo do produtor, é possível gerar renda e promover a convivência produtiva com o Semiárido”, destacou.

Já a vice-presidente de Sustentabilidade da AXIA Energia, Camila Araújo, ressalta que é muito positivo observar, na prática, como as ações de responsabilidade socioambiental da empresa contribuem para transformar vidas e fortalecer comunidades nas áreas de influência de seus empreendimentos.

“Projetos como este reafirmam o nosso compromisso com a performance sustentável, valorizam a agricultura familiar, incentivam o uso responsável dos recursos naturais e promovem impactos duradouros para as pessoas e para o meio ambiente, por meio da capacitação de quem atua nas atividades agropecuárias, ampliando suas oportunidades de renda e qualidade de vida”.

O relatório do IDIS indicou ainda que 81% do valor social gerado pelo projeto se expressaram em melhorias diretas nas condições de vida das famílias, por meio de reformas nas moradias, aquisição de bens, melhor alimentação e redução de dívidas.

Foto acima: Clarice Richa (produção de hortaliças)

Campos de Aprendizagem Tecnológica

A execução do projeto Lagos do São Francisco teve como base a implantação dos Campos de Aprendizagem Tecnológica (CATs). Ao todo, foram instalados 508 CATs, espaços demonstrativos implantados em propriedades de produtores selecionados, que funcionaram como laboratórios a céu aberto para a aplicação e validação de tecnologias adaptadas ao Semiárido.

Nesses ambientes, os produtores receberam insumos como mudas, sementes e ferramentas, e tiveram a oportunidade de aprender e aplicar técnicas de manejo em diferentes culturas, sempre respeitando a vocação produtiva de cada município e os macrotemas definidos nos planos de ação do projeto.

Foram implantados CATs voltados ao cultivo de cebola, tomate, melancia, milho, feijão, mandioca, manga, goiaba, coco, citros e banana, além de atividades dedicadas à criação de caprinos, ovinos, bovinos, galinhas e abelhas. Esses espaços também se tornaram referência em práticas de recuperação ambiental, manejo de solo e uso racional da água.

Outro destaque foi a forte parceria com prefeituras e entidades de assistência técnica, que contribuíram diretamente para a execução das ações em campo. Além disso, o projeto promoveu diversos eventos de capacitação, alcançando milhares de produtores rurais em toda a região.

Foto: Francisco Evangelista

 

Visão do produtor

Para muitos produtores, o projeto representou uma virada produtiva e pessoal. O meliponicultor Clênio da Silva, de Pariconha (AL), conta que aprendeu técnicas que elevaram a qualidade e o rendimento do mel. “Sem capacitação, a gente não tem como trabalhar direito. Esses cursos ajudaram demais. Hoje já fazemos colheitas boas, com mais qualidade, e isso tem ajudado na renda da família”, disse.

Na mesma cidade, o técnico da Emater Isaquiel Dias reforçou o papel da iniciativa na estruturação da cadeia apícola: “Hoje a gente tem uma cadeia organizada. Isso agrega valor aos agricultores e contribui para a preservação ambiental, porque as abelhas dependem de um ecossistema equilibrado”.

Em Olho D’Água do Casado (AL), o produtor Cícero Lima viu sua renda dobrar após ajuda técnica para implantação de forrageiras. “Antes, o que eu plantava vendia quase de graça. Com o projeto, comecei a investir nas vacas, e elas começaram a dar retorno. Vieram a palma, o sorgo, a BRS Capiaçu, melhorou demais”.

O técnico da Emater local  Nicolas da Costa confirmou o avanço: “Muitos produtores reduziram a compra de insumos, porque agora produzem forragens de alta qualidade dentro da própria propriedade. Isso fortalece a produção e melhora a renda”.

Em Paulo Afonso (BA), o agricultor Erisvan Pereira destacou o impacto do uso de tecnologias simples, como o cultivo de tomate sob lona. “Antes, a gente perdia metade da produção. Agora, o tomate não apodrece, fica limpo e bonito. Melhorou 100%. Quero continuar crescendo com o apoio do projeto”, afirmou.

Já Miguel Júnior, produtor de Poço Redondo (SE), contemplado com uma CAT de limão e tangerina, define o projeto como ‘um recomeço cheio de esperança’. “A Embrapa trouxe conhecimento e acompanhamento. Aprendi a irrigar melhor, adubar na hora certa e controlar pragas sem prejudicar o meio ambiente. Isso mudou tudo na forma de trabalhar”.

Além das frutíferas, Miguel adotou o consórcio com mandioca e feijão, garantindo renda até o início da colheita. “Hoje me sinto um produtor mais profissional. Minha família participa de tudo e a gente acredita mais no nosso potencial”.

 

Fotos: Francisco Evangelista (acima, o produtor Erisvan Pereira) e Clarice Rocha (à esquerda, produtor MIguel Júnior)

 

Rede de cooperação

O sucesso do Lagos do São Francisco foi possível graças à atuação conjunta de uma ampla rede de instituições públicas e organizações da sociedade civil. A execução envolveu equipes multidisciplinares da Embrapa Semiárido, professores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), técnicos do Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas (Emater) e prefeituras municipais.

A secretária de Agricultura de Delmiro Gouveia (AL), Renally Medeiros, que iniciou sua trajetória no projeto como técnica de campo, testemunhou de perto as transformações geradas nas comunidades rurais. “Foi uma experiência marcante. Vimos famílias que antes tinham medo de arriscar na produção começarem a acreditar em si mesmas. O Lagos do São Francisco despertou nas pessoas o desejo de aprender e de empreender no campo. Muitos produtores, que antes viviam apenas de programas sociais, hoje têm sua própria renda e vendem para o PAA e o PNAE”, relembra, referindo-se, respectivamente ao Programa de Aquisição de Alimento e ao Programa Nacional de Alimentação Escolar, iniciativas do Governo Federal.

Para o técnico Joaquim Santos, da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação (Cohidro), da Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca de Sergipe, “a Embrapa trouxe base científica e orientação prática, e juntos conseguimos resultados concretos”.

Segundo ele, as ações promoveram avanços rápidos na produtividade e na consciência ambiental. “Implantamos áreas de fruticultura, distribuímos sementes adaptadas e reflorestamos nascentes. Hoje, vemos propriedades mais verdes, organizadas e produtivas. É um projeto que realmente transformou a região”.

Os doze municípios atendidos pelo Lagos do São Francisco foram: Petrolândia e Jatobá, em Pernambuco; Glória, Rodelas e Paulo Afonso, na Bahia; Pariconha, Delmiro Gouveia, Olho D’Água do Casado e Piranhas, no estado de Alagoas; além de Canindé do São Francisco, Poço Redondo e Nossa Senhora da Glória, em Sergipe.

 

Foto: Clarice Rocha (recuperação de nascente)

 

Clarice Rocha (MTb 4733/PE)
Embrapa Semiárido

Comentários