Padre Geraldo Trindade Furlaneto, Assessor da Comissão de Arquitetura, Engenharia e Arte Sacra
A arte sacra é um assunto que não é
muito comentado e nem discutido nos vários segmentos da Igreja. Quase ninguém
fala dela, mas ela está aí, na maioria das nossas igrejas, na arquitetura, nos
paramentos litúrgicos, nas vestimentas e acessórios, na ornamentação, nos
vitrais, nos desenhos de passagens bíblicas e principalmente nas imagens dos
santos, quer em forma de esculturas, quer em forma de pinturas nas paredes.
A arte sacra representa uma forma de
manifestação artística que está intimamente relacionada com a religiosidade e o
sagrado. Atualmente, podemos encontrar museus com obras da Arte Sacra em todas
as partes do mundo. No Brasil, a arte sacra foi a primeira manifestação na
época colonial, sendo Aleijadinho um dos mais importantes nomes da Arte Sacra
no contexto do barroco mineiro.
Para nós, católicos, a “Arte Sacra” é
aquela arte religiosa que tem um destino de liturgia, isto é, aquela que se
ordena a fomentar a vida litúrgica nos fiéis e que por isso não só deve
conduzir a uma atitude religiosa genérica, mas há de ser apta a desencadear a
atitude religiosa exigida pela liturgia, ou seja, para o culto divino.
Embora o conceito de Arte Religiosa e Arte
Sacra se aproximem, há uma diferença entre elas. A Arte Religiosa reúne obras
artísticas de cunho religioso e pode ser representada por esculturas de santos
e pinturas de passagens bíblicas, por exemplo. Essas manifestações geralmente
estão fora dos lugares de cultos e rituais religiosos. Já a Arte Sacra são
obras de teor religioso que estão relacionadas aos rituais. Sua função é
adornar os locais em que os ritos e celebrações religiosas ocorrem. Assim,
envolvem as sensações de religiosidade e fé dos fiéis envolvidos, mediados por
um ambiente sagrado chamado de “espaço litúrgico”.
A “Arte Sacra” é a arte que tem um
destino de liturgia, se ordena a fomentar a vida litúrgica nos fiéis e que por
isso não só deve conduzir a uma atitude religiosa genérica, mas levar todos a
viver uma espiritualidade que leva à oração, todas as vezes que se deparam com
a arte proposta pelo artista sacro.
Em resumo, ambas possuem temática
religiosa e tem como intuito adornar os espaços. Porém, a Arte Sacra é
produzida para fazer parte dos cultos divinos ou rituais religiosos, de maneira
mais específica, na Sagrada Liturgia. Dessa maneira, podemos concluir que a Arte
Sacra surge da Arte Religiosa. Logo, toda Arte Sacra é religiosa, entretanto,
nem toda Arte Religiosa pode ser considerada sacra.
Como exemplo, podemos pensar no afresco
“A Última Ceia” (1495-1497) do pintor renascentista Leonardo da Vinci. Essa
obra se encontra na Igreja e Convento de Santa Maria da Graça em Milão. Se está
inserida num local relacionado aos cultos sagrados, ela é considerada uma arte
sacra.
A arte sacra, não só deve servir à
Liturgia e respeitar os fins especificamente litúrgicos – ainda que mantendo-se
fiel às suas exigências naturais como arte, mas deve expressar e favorecer à
sua maneira esses fins, dirigindo a essa finalidade o prazer estético que, por
sua natureza, à mesma arte lhe cabe produzir. Por isto, se o artista, além de o
ser autenticamente, não estiver vitalmente penetrado da religiosidade geral e
ao mesmo tempo da religiosidade litúrgica, não poderá produzir uma obra
autêntica de arte sacra.
A arte sacra é necessária que seja
compreensível, ou seja, que sirva de ensinamento, porque é uma “teologia em
imagens". Deve representar as verdades da fé, não de um modo arbitrário,
mas de exposição do dogma cristão com a maior fidelidade possível e com
sentimentos autenticamente piedosos.
Como resposta a essa necessidade, a
Igreja propõe a formação de uma Comissão Diocesana de Arte Sacra, ampliada
posteriormente como Comissão de Arte Sacra e Bens Culturais da Igreja. No que
diz respeito à arte sacra, tem por objetivo auxiliar as comunidades na análise
dos projetos de construção, reforma, restauração, ampliação, adequação e
adaptação externa das igrejas e seus anexos, a fim de garantir unidade e
fidelidade às normas requeridas pela própria igreja para seus espaços. Esses
projetos devem ser elaborados por profissionais habilitados, preferencialmente
com formação na área de concepção do espaço litúrgico.
A Comissão de Arte Sacra deve ser
constituída de liturgistas, profissionais da área de arquitetura, engenharia e
arte, com especialização em arte sacra e espaço litúrgico. Quando possível e
necessário, haja também a presença dos responsáveis pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ou Estadual.
Em nossa diocese essa Comissão existe
desde o ano 2013 e é composta por engenheiros, arquitetos, artistas de todos os
setores da diocese e tendo um padre que acompanha e assessora. No caso, sou eu,
padre Geraldo Trindade Furlaneto, desde quando começou essa Comissão.
Três Fronteiras-SP, 04 de novembro de 2025

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