*José Renato Nalini
Na ESALQ, a Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, foi elaborada uma pesquisa para mostrar
que o plantio de árvores frutíferas ajuda o clima e também a segurança
alimentar nas cidades.
Foi um estudo sério, científico,
baseado em estudos internacionais e pesquisa aplicada, já que foram
entrevistados mais de trezentos moradores de São Paulo. Também foram realizadas
entrevistas com servidores públicos das áreas de meio ambiente em diferentes
níveis de governo.
O autor da tese, Eduardo Ribas,
constatou que mais de 60% dos entrevistados disseram já ter praticado o
forrageamento, a estratégia de plantio de árvores frutíferas e 30% o fizeram
para se alimentar.
Nítida e evidente a correlação
direta entre renda e alimentação. As famílias de parcos recursos conseguem
complementar sua nutrição com plantas que eram bem conhecidas das gerações
antigas, mas que as novas têm perdido. Um conhecimento que não pode ser
sepultado ou condenado ao ostracismo.
Dentre as entrevistadas, duas donas
de casa deram o exemplo. Cuidam de área verde contígua à sua residência e
cultivam mais de trinta espécies de plantas, entre comestíveis, aromáticas e
medicinais. Quem conhece guaco, ora-pro-nóbis e melissa? Mas também plantaram
graviola, limão, manga, mamão, além de bananeiras e goiabeiras.
Uma delas era paulistana e nunca
mexera com terra. A outra já vivera na roça, no sul de Minas. Além de consumo
próprio, ambas compartilham os frutos da colheita com a vizinhança e podem ser
classificadas com o perfil de forrageadoras, pessoas que exploram recursos
alimentares. Na prática, elas ainda reconstroem uma relação com o ambiente
urbano a partir do contato com a natureza e com alimentos cultivados de forma
orgânica.
Para
Ribas, o estudo aponta caminhos para a formulação de políticas públicas que
incorporem o forrageamento urbano no planejamento das florestas urbanas sem
deixar de lado os desafios. Entre eles estão a falta de informação sobre
espécies comestíveis e a necessidade de um plantio mais criterioso. “A educação
ambiental é fundamental”, defende. “É preciso ensinar a população a reconhecer
quais espécies podem ser usadas de forma segura e planejar o espaço urbano para
que essas plantas estejam disponíveis sem gerar riscos.”
É a
Academia a fornecer à sociedade os caminhos para implementar a participação
cidadã no enfrentamento de questões tão sérias como a desnutrição e as
emergências climáticas, fruto de nossa incúria. Tanto por desmatarmos,
devastarmos e dizimarmos o verde, como por nos submeter à tirania do
combustível fóssil, que nos envenena e mata.
Há soluções, portanto. Basta a coragem para adotá-las.
*José Renato Nalini é Reitor da
UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das
Mudanças Climáticas de São Paulo.
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