*José Renato Nalini
O livro “O mundo de Sofia”, do
norueguês Jostein Gaarder, foi um sucesso editorial. Vendeu mais de cinquenta
milhões de cópias, desde que foi publicado em 1991. É uma iniciação objetiva e
clara sobre filosofia e atraiu leitores de todas as idades.
Recentemente, ele ficou apavorado ao
verificar que não havia abordado aquela que considera a mais importante questão
da filosofia: a preservação da Terra. Por isso, escreveu novo livro: “Nós que
estamos aqui agora”. Começa com uma carta aos seus quatro netos. Para o avô
escritor, solucionar a crise ambiental é uma responsabilidade ética. É o compromisso
desta geração para com as próximas.
Ele detectou algo que existe na
Constituição da República Federativa do Brasil desde 5.10.1988. O artigo 225
foi considerado o mais belo dispositivo fundante – que figura numa Constituição
– produzido no século XX. Por que? Titulariza as futuras gerações como sujeitos
ao direito fundamental de disporem de sadia qualidade de vida, resultante de um
ambiente equilibrado.
Para Gaarder, há dois aspectos nessa
responsabilidade. O primeiro é moral e o outro intelectual. No aspecto moral, é
óbvio que os negacionistas, que se recusam a crer no aquecimento global e
consideram a ecologia uma pseudociência, nutrida por nefelibatas, carregam a
culpa sob a modalidade dolosa. Ou seja: estão querendo destruir a vida no planeta
ou pelo menos aceitam esse risco.
Intelectualmente, é impossível negar
que a ciência emite alertas há décadas, para que a humanidade corrija seu modo
insano de viver. Os cientistas hoje lamentam a timidez com que advertiram os
humanos. Deveriam ter sido mais contundentes. Por isso, agora é a natureza que
está com a palavra. E ela está zangada. Cansou-se de sofrer e responde como
pode: com fenômenos extremos, com chuvas copiosas, vendavais, violentas rajadas
de vento, tudo entremeado com ondas de calor, escassez hídrica e seca.
Minha geração falhou e continua a
falhar. Será que a juventude será mais sensível e determinada a enfrentar a
policrise? É a esperança que nutre os que ainda acreditam possa haver alguma
perspectiva para a humanidade que parece ter escolhido o suicídio coletivo como
destino final.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo
das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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