Setembro Amarelo: saúde mental dos idosos exige atenção especial e rede de apoio


Especialista do CEJAM chama atenção para os desafios da saúde mental na terceira idade e destaca a importância das redes de apoio 

Créditos: Getty Images

 

 

 O processo de envelhecimento, muitas vezes marcado por perdas, limitações físicas e mudanças sociais, pode tornar os idosos mais vulneráveis ao sofrimento psíquico. No Setembro Amarelo, campanha de conscientização sobre a prevenção ao suicídio, especialistas alertam para os desafios da saúde mental na terceira idade e destacam a importância ​​do acesso a serviços de saúde​​ e do fortalecimento de vínculos comunitários para promover o bem-estar emocional.

De acordo com o Ministério da Saúde, entre pessoas com 70 anos ou mais, a taxa de mortalidade por causas relacionadas à saúde mental foi de 11,8 por 100 mil habitantes em 2022, quase o dobro da média nacional. Já um levantamento realizado pela Unicamp​,​ com base no ELSI-Brasil, aponta que 34% dos brasileiros com 50 anos ou mais relataram sintomas depressivos e 16% declararam sentir solidão com frequência.

Para Ligia Kaori Matsumoto, psicóloga do Hospital Dia M’Boi Mirim I, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas ​​“​​Dr. João Amorim​​” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS-SP)​​, esse cenário está diretamente ligado às transformações típicas da velhice. O envelhecimento costuma vir acompanhado de perdas importantes, como a morte de entes queridos, o declínio físico, a redução da autonomia e até a dificuldade de acesso a serviços de saúde de qualidade. Esses fatores somados impactam de forma significativa a saúde mental dos mais velhos.

Outro ponto crítico é a aposentadoria, que pode representar não apenas a perda de um papel social relevante, mas também a redução da renda, gerando insegurança financeira. A psicóloga lembra ainda que idosos estão mais expostos a diferentes formas de violência, como a psicológica, física, financeira, patrimonial ou até negligência, o que amplia os riscos de sofrimento emocional.

Entre os fatores de risco, a solidão tem ganhado destaque como um dos principais gatilhos para o adoecimento mental. Sem vínculos sociais sólidos, muitos idosos passam a se sentir sem propósito, perdem autoestima e até recorrem ao abuso de álcool ou medicamentos como forma de enfrentamento. Ligia observa que, nesses casos, o risco de suicídio cresce silenciosamente. “Muitas vezes, o suicídio não se anuncia de forma abrupta, mas vai se insinuando lentamente, como uma vida que se desfaz em gotas de abandono e sofrimento.”

Nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), equipes multiprofissionais acompanham de forma contínua os idosos do território e conseguem perceber mudanças de comportamento durante consultas e atividades coletivas. Entre os instrumentos aplicados estão a Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa (AMPI), testes de rastreamento como o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e a Escala de Depressão Geriátrica (GDS). Esses recursos ajudam a estruturar o Projeto Terapêutico Singular (PTS), que orienta um cuidado individualizado.“Quando identificamos precocemente sinais de risco, podemos intervir de forma efetiva, oferecer suporte psicossocial e envolver a família no cuidado. Essa atuação faz toda a diferença para evitar o agravamento dos casos”, afirma Ligia.

​​​A especialista​​ alerta que é preciso atenção a sinais como negligência com a higiene, isolamento social, alterações de apetite e sono, perda de interesse em atividades prazerosas e falas sobre desesperança ou inutilidade. Ela ressalta que nem todo sintoma deve ser atribuído ao envelhecimento. Fadiga, anemia ou deficiência de vitamina B12, por exemplo, se ​​confundem​​​​ com quadros depressivos. “A avaliação médica é fundamental para diferenciar causas orgânicas de questões emocionais. O que não pode acontecer é o sofrimento ser naturalizado ou invisibilizado”, acrescenta.

A rede comunitária exerce papel essencial para reduzir a solidão e fortalecer vínculos. Grupos de convivência, atividades culturais, religiosas e sociais mantêm a mente ativa e reforçam o sentimento de pertencimento. A integração com vizinhos, ONGs e associações de bairro ​​auxiliam na construção de​​ laços de cuidado e solidariedade.

Apesar da relevância do tema, o estigma ainda é um dos maiores obstáculos. Muitos idosos, pertencentes a gerações em que a saúde mental era tabu, resistem a procurar ajuda. Sentimentos de vergonha, medo de julgamento e a crença equivocada de que tristeza ou ansiedade são “naturais” da velhice dificultam o acesso ao tratamento.

A psicóloga recomenda ainda que familiares e cuidadores invistam em presença e escuta ativa, estimulem a autonomia e valorizem a história de vida dos idosos. Pequenas ações como ligações frequentes, incentivo a hobbies, prática de atividades físicas, boa alimentação e sono regular fazem diferença na saúde emocional. Para os próprios idosos, práticas simples e acessíveis também podem contribuir. Manter uma boa hidratação, cultivar hobbies que estimulem a memória, como leitura e jogos de palavras cruzadas, e preservar o contato social com familiares e amigos são estratégias importantes. A espiritualidade e a fé, quando presentes, ​​funcionam​​​​ ​​ como fontes de conforto e resiliência.

“O mais importante é não naturalizar o sofrimento. Cuidar da saúde mental é tão essencial quanto cuidar do corpo, especialmente na velhice. O suporte precoce e contínuo pode transformar a qualidade de vida dos idosos e prevenir desfechos trágicos”, conclui.

 

Sobre o CEJAM     

O CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” é uma entidade filantrópica e sem fins lucrativos. Fundada em 1991, a Instituição atua em parceria com o poder público no gerenciamento de serviços e programas de saúde em São Paulo, Rio de Janeiro, Mogi das Cruzes, Campinas, Carapicuíba, Barueri, Franco da Rocha, Guarulhos, Santos, São Roque, Ribeirão Preto, Lins, Assis, Ferraz de Vasconcelos, Pariquera-Açu, Itapevi, Peruíbe e São José dos Campos.

A organização faz parte do Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (IBROSS), e tem a missão de ser instrumento transformador da vida das pessoas por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde.

O CEJAM é considerado uma Instituição de excelência no apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS), tendo conquistado, em 2025, a certificação Great Place to Work. O seu nome é uma homenagem ao Dr. João Amorim, médico obstetra e um dos fundadores da Instituição. 

No ano de 2025, a organização lança a campanha "365 novos dias de saúde, inovação e solidariedade", reforçando seu compromisso com os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança). 

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