Particularidades do maior produtor - estado de São Paulo - de citros do mundo. Região Noroeste: Jales - Fernandópolis - Votuporanga
Particularidades do maior produtor de citros do mundo
Que o Estado de São Paulo é o maior produtor de citros do mundo não é novidade para ninguém, mas talvez até dentro do próprio setor haja desconhecimento das particularidades do trabalho que as regiões citrícolas desempenham no seu dia a dia e que variam muito dependendo do tipo da fruta, seu sistema de produção e do perfil de comercialização. Aqui estão sendo apresentados 11 (onze) perfis, para que se possa conhecer genericamente suas particularidades e aspectos fitossanitários de doenças quarentenárias.
1 - Sudoeste/Centro-Sul
Localizadas na região centro-sul do Estado de São Paulo, as regiões de Sorocaba e Botucatu se destacam na produção de Laranja doce (Sorocaba também Tangerinas). Há boas condições de clima, solo e infraestrutura para escoamento da produção; os grandes grupos do setor citrícola instalados na região investem em tecnologia, manejo, controle de pragas e colheita mecanizada. Com relação aos obstáculos de produção envolvendo pragas e doenças, o Cancro não apresenta grande preocupação, devido ao Sistema de Mitigação de Risco (SMR) Cancro Cítrico, amplamente disseminado no Estado, bem como os fatores já descritos. Já com relação ao HLB/Greening, doença bacteriana mais grave da citricultura atual, embora menos agressiva do que nas áreas centrais e do norte do Estado, ainda exige atenção dos produtores, como monitoramento constante, erradicação de plantas contaminadas, controle químico para eliminação do inseto vetor e aquisição de mudas certificadas. No país, a Laranja doce é amplamente destinada ao mercado interno, tendo parte da sua produção destinada também ao mercado externo, seja como fruta in natura e a maior parte como suco concentrado. Entre os desafios para exportação de frutos in natura, destacam-se os requisitos fitossanitários impostos pelos países importadores, que têm elevada exigência quanto ao controle de pragas e doenças nos pomares. Neste ponto, destaca-se a utilização SMR para praga denominada Pinta Preta (Phyllosticta citricarpa), crucial para atendimento às rigorosas exigências de exportação de frutos frescos à União Europeia (UE), este já usado nestas regiões.
Pomar recém implantado na região de Avaré - 2024
Na região de Avaré, sudoeste paulista (Médio Paranapanema), a introdução da citricultura foi mais tardia. As propriedades, em sua maioria, são de grande porte, com predominância de cultivo de Laranjas doces. Existem muitas propriedades inscritas no SMR Cancro Cítrico, com destaque para as dezenas que tem o status de “livre ocorrência”. O HLB/Greening é preocupação, pois nos últimos anos se disseminou rapidamente. No entanto, chama atenção a grande diferença nos níveis de infestação da doença entre as propriedades. Enquanto em algumas a ocorrência é generalizada, em outras propriedades nem mesmo encontram-se plantas com sintomas. No cenário atual, notam-se situações bem distintas, onde em algumas propriedades as máquinas trabalham para eliminar pomares inteiros afetados pelo HLB/Greening, enquanto em outras se podem avistar imensas áreas com novos plantios de laranja. O futuro da citricultura é incerto, mas a julgar pelos novos pomares, o setor produtivo ainda terá bastante desafio com a citricultura nesta região.
2 - Centro Oeste
A região de Bauru foi uma área de migração da citricultura em busca de preços menores dos imóveis agrícolas, além da migração de regiões produtoras tradicionais em decorrência de doenças como HLB/Greening. Porém atualmente o índice da doença já é muito considerável. Outro fator atrativo foi o clima favorável à produção citrícola. A região conta com indústria de suco de laranja e unidades de beneficiamento de frutos para o mercado interno. No geral as propriedades não são pequenas. Destaque para o entreposto aduaneiro (EADI) de Bauru ou comumente chamado Porto Seco. Nele são feitos desembaraço aduaneiro (liberação da mercadoria pronta para exportação) junto a RFB (Receita Federal do Brasil) e MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária). Entre os produtos vegetais que passam pelo Porto estão a Lima Acida Tahiti da região Noroeste. Os fiscais do MAPA aplicam se necessário, testes rápidos para detecção de cancro cítrico e em caso positivo o contêiner é devolvido a origem e nem chega ao porto marítimo.
3 - Central e Norte
Nesta região, no ano de 2004, foi identificado pela primeira vez no Brasil, o HLB/Greening e, infelizmente hoje conta com altos índices de contaminação. Basicamente produz Laranja doce para ser esmagada nas indústrias de suco da região. Nos municípios de Araraquara e Matão estão sediadas as maiores fábricas de suco de laranja do mundo. O modelo de produção é baseado em médias e grandes propriedades, seja de fornecedores ou das próprias indústrias. O destaque fitossanitário fica para a região de Barretos, que viu surgir a morte subida dos citros, porém para o bem de todos não evoluiu e praticamente desapareceu dos holofotes tal como a Clorose Variegada dos Citros (CVC).
A região de Jaboticabal se destaca pela grande capacidade de processamento de frutas para mercado in natura, sendo umas das regiões que mais certificam frutos para comercialização interestadual. Há também presença de propriedades com habilitação para exportação a UE (Lima Acida Tahiti). Em geral os pomares da região de Barretos produzem para abastecer as indústrias de suco concentrado.
Pomar recém implantado na região central - 2025
A região de Barretos e Jaboticabal, juntamente com Catanduva, no noroeste paulista, concentram mais de 50% dos viveiros de citros do Estado, sendo responsável também por mais da metade das mudas produzidas. Cabe ressaltar que São Paulo é referência internacional nesse segmento.
Em Araraquara fica o FUNDECITRUS (Fundo de Defesa da Citricultura) entidade privada, sem fins lucrativos, mantida por citricultores e indústrias de suco (pesquisas também subsidiadas por dinheiro público). Atuando há décadas em pesquisa, monitoramento e controle de pragas e doenças dos citros, produz estatísticas da citricultura paulista e brasileira. É referência nacional e internacional em sanidade e sustentabilidade da laranja e um dos pilares que manteve o Brasil como líder mundial na produção da fruta apesar da introdução do HLB/Greening.
4 - Noroeste (Catanduva / São José do Rio Preto)
Com médios e grandes produtores de Laranja, é beneficiada pelo clima e solos favoráveis, bem como a proximidade com as indústrias de processamento. Além da indústria, a Laranja doce pode seguir também para o mercado de fruta in natura abastecendo não só o próprio Estado de São Paulo como outros Estados brasileiros. Na região de Catanduva, destaque absoluto para as centenas de propriedades que cultivam Lima Acida Tahiti, que é um pilar econômico da região, sendo o município de Itajobi o principal produtor da fruta. As unidades de consolidação (packing houses) e traders possibilitam a fruta chegar para diversos países, em especial o bloco europeu (EU e Reino Unido). Vide informativo numero 18 (https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/informativo/defesa-agrosp-no-018-janeiro2023/exportacao-de-lima-acida-tahiti-para-a-uniao-europeia/).
Lima acida na região de Catanduva - 2024
Apesar do carro chefe ser a Lima Acida Tahiti, a região de Catanduva também produz outras variedades como Laranjas, Tangerinas e Limas que são destinadas tanto para o mercado de mesa como para a indústria. Cancro Cítrico e HLB/Greening são presentes e o clima da região é favorável tanto para a bactéria causadora do Cancro Cítrico, quanto para o ciclo de desenvolvimento do psilídeo, inseto vetor do HLB/Greening. Em relação ao Cancro Cítrico, a adoção de medidas de manejo para mitigar os riscos e reduzir o potencial de inóculo se faz necessário, sendo o SMR fundamental para viabilizar a comercialização entre os Estados e, principalmente, a exportação para a Europa. O HLB/Greening, exige um manejo rigoroso do inseto vetor e a erradicação de plantas doentes. A região, além de produzir e beneficiar as frutas cítricas, apresenta grande produção de materiais de propagação, contemplando desde a produção de sementes e borbulhas até a muda enxertada, abastecendo tanto os produtores locais como de outras regiões, ou seja, a citricultura da região possui relevância econômica em toda a cadeia citrícola. A região se mantém entre os polos de produção de citros do Estado mostrando a resiliência do setor que se adapta frente aos desafios para manter sua posição de destaque no mercado.
5 - Noroeste (Jales / Fernandópolis / Votuporanga)
Esta região tem modelo de produção bem impar em relação a outras regiões. Região com menor porcentagem de HLB/Greening, vem atraindo citricultores de outras regiões do Estado que estão assustados ou foram expulsos pela doença. Entretanto, os índices de Cancro Cítrico, são altos desde os anos 1990 e, aliado a um modelo de comercialização que exporta muita fruta para outros Estados, sempre demandou muito trabalho na área de certificação fitossanitária. O número de estruturas processadoras aptas à exportação de Lima Acida Tahiti é tímido, porém suas dezenas de casas de embalagens/unidades de consolidação processam Laranjas e Limas Ácidas para dentro e fora do Estado (praticamente todas as UF´s do país), inclusive com potencial para identidade geográfica (IG), pois a “Laranja de Jales” é conhecida no Brasil todo, como sendo fruta de casca feia, porém muito doce. Possui viveiros de mudas de pequeno porte que acabam não suprindo a demanda da região. A maioria das propriedades são pequenas, com produção baseada em agricultura familiar. O retrato dos últimos anos foi a chegada de citricultores de outras partes do Estado, adoção total de irrigação (alguns sob pivô), produção em terras arrendadas e aumento linear do cancro cítrico, HLB/Greening ainda em baixos índices e CVC praticamente desaparecido. Há produtores que produzem a fruta em Minas Gerais e mantém as processadoras nesta região, o que implica em grande transito interestadual de frutas.
Região de Jales, fruto com Cancro Cítrico - 2025
6 - Centro Leste (Limeira / Mogi Mirim)
A Região de Limeira é reconhecida como o berço da citricultura no Brasil, tendo sido por décadas a maior produtora nacional. Apesar de ter perdido protagonismo na produção de frutos, especialmente devido ao HLB/Greening, manteve relevância estratégica na produção de material de propagação de citros. Para frutos, predomina o modelo de cultivo em médias propriedades (também há pequenas e grandes), com ênfase na Laranja doce e menor participação da Lima Acida Tahiti, além de áreas voltadas ao cultivo orgânico. Já na produção de mudas, destaca-se como referência nacional, abrigando viveiros de grande porte.
A região também conta com processadoras de frutas in natura, capacitadas para atender os exigentes centros urbanos de alta renda do país, além de indústrias de suco concentrado. Outro diferencial é a forte presença de metalúrgicas especializadas na fabricação de máquinas processadoras de citros e outras frutas, que abastecem todo o país. Ainda há espaço para a pesquisa neste cenário; o Centro de Citricultura do Governo do Estado de São Paulo, é considerado um dos maiores polos mundiais de pesquisa e transferência de tecnologia desta cadeia, atraindo visitantes e especialistas de diversas partes do mundo.
7 - Alta Paulista
Caracterizada por pequenas propriedades, a citricultura na região de Dracena sequer aparece nos mapas de estudo do FUNDECITRUS, pois é possível contar nos dedos o número de propriedades citrícolas. Os pomares se dividem em Laranja, Tangerina e Lima Acida Tahiti e é comum encontrar as diferentes espécies numa mesma propriedade. A ocorrência de cancro cítrico é generalizada na região, sendo sempre uma preocupação para a Defesa Agropecuária. Já em relação ao HLB/Greening, as áreas com ocorrência tem aumentado, de forma que a Região, que estava sendo considerada uma alternativa para a migração dos pomares, já se mostra comprometida pela ocorrência da doença.
O município de Herculândia é conhecido por abrigar uma grande quantidade de viveiros de mudas, especializados na produção de espécies ornamentais, florestais e frutíferas, sendo um importante polo produtor. São aproximadamente 150 viveiros de onde saem por semana 350 veículos para todos os cantos do país vendendo as mudas na modalidade ambulante. O grande problema fitossanitário são o armazenamento e venda de mudas cítricas clandestinas que vem sendo combatido com mais intensidade nos últimos anos pelo MAPA e pela Defesa Agropecuária de São Paulo.
8 - Pontal do Paranapanema
Embora a região não seja grande produtora, o Pontal do Paranapanema tem suas particularidades e contribuições para o setor. O Pontal é uma região geograficamente marcante no extremo oeste de São Paulo. Sua paisagem é dominada por extensas áreas agrícolas, e a citricultura se insere nesse contexto, convivendo com culturas como a cana-de-açúcar, a pecuária e a soja. A expansão da citricultura ocorre, em parte, como uma forma de diversificação agrícola e aproveitamento de terras que, por vezes, não eram ideais para outras culturas ou que buscavam maior valor agregado. A proximidade com mercados consumidores e a infraestrutura logística de São Paulo também são fatores atrativos. Um fator de importância nessa frente regional da citricultura são as condições de clima que não são favoráveis à disseminação HLB/Greening. Clima este, vivendo extremos nos últimos anos com veranicos ou chuvas excessivas, o que afeta a produtividade e a qualidade da fruta. Embora a maior parte da produção seja de frutos para a mesa, muitos produtores de Laranjas destinadas à exportação de suco tem se deslocado para essa região, atraídos por preços de terra mais baixos. Os índices baixos de HLB/Greening são outro atrativo. A citricultura no Pontal do Paranapanema é um componente importante da economia agrícola regional e enfrenta desafios comuns à citricultura paulista.
9 - Vale do Ribeira
Região marcante para produção de Banana, mas também com espaço para citricultura. Atualmente existem 20 propriedades, desde pequenas até 3.000 mil plantas, cuja comercialização é local, e outras maiores até 150.000 plantas cuja produção certificada segue para grandes entrepostos, onde o fruto pode alcançar outros estados. O município de Pariquera-Açu é destaque onde há concentração da maior parte do parque citrícola do Vale, onde prevalece o cultivo de Tangerinas e Tangores. Em relação às pragas quarentenárias, nos últimos 3 anos se tem observado o aumento da incidência do HLB/Greening. A presença de cancro cítrico não foi detectada até o momento.
10 - Vale do Paraíba
Produção voltada para atender o mercado da região do próprio Vale do Paraíba, (Litoral Norte e Serra da Mantiqueira). No cadastro oficial, são sete propriedades, sendo cinco de Tangerina Ponkan, uma de Limão Siciliano e uma de Limão cravo. As propriedades não são grandes, sendo a maior com menos de 3.000 plantas. Não há o registro de ocorrência de cancro cítrico. Relativo ao HLB/Greening são três casos registrados, sendo o primeiro em 2013, em lotes de um assentamento na cidade de Tremembé, cujos pomares já foram erradicados. Não há registro de ocorrência nos últimos anos, o que é muito positivo para os produtores, que fazem o monitoramento e o manejo preventivo.
11 - Região da Alta Mogiana
É reconhecida como uma região produtora de Café, mas através de grandes propriedades produtoras de laranja doce, tem desenvolvido a citricultura, a qual está ganhando força ao longo do tempo. É caracterizada pela produção voltada para o mercado interno (principalmente para indústria) e produtores tecnificados. O crescimento da produção dessa região deve-se ao aparecimento da doença HLB/Greening, que obrigou produtores das principais regiões do estado migrarem para alta mogiana. Com relação ao Cancro Cítrico a região apresenta baixíssimos índices de ocorrência, propiciando que propriedades façam adesão ao SMR e sejam identificadas como “Sem Ocorrência de Cancro Cítrico”, diferente do HLB/Greening, doença que apresenta sintomas em 45% das plantas em 2025, de acordo com a FUNDECITRUS.
Sem dúvida, se descritos em detalhe, todos os perfis ultrapassariam o espaço de um único informativo. O objetivo, entretanto, é evidenciar a força da citricultura paulista, que, mesmo diante dos desafios fitossanitários, segue tenaz e assegura ao mundo produtos de excelência. A Defesa Agropecuária de São Paulo, como parte dessa engrenagem, expressa seu reconhecimento e rende homenagem a todos os citricultores e demais protagonistas desta cadeia produtiva.
Por Andreia Juliana de Andrade, Claryssa Monteiro, Daves Setin, Elisa Adriano, Joao Flavio Caldas, Kelly Tasquini, Luciano Chinen, Luciano Melo, Marcelo Zonta, Maurício Rotundo, Marlon Peres, Roney Peixoto, Valentim Scalon e Veridiana Mendonça
Comentários
Postar um comentário