Foto: Juliana Caldas
Na sexta-feira (26), 40 assessores parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal participaram, na Embrapa Cerrados (Planaltina-DF), de um dia de campo com o tema “Soluções tecnológicas para uma agricultura sustentável”. O encontro foi organizado pela Assessoria de Relações Institucionais e Governamentais (Arig) da Embrapa, em parceria com a Embrapa Cerrados, e teve como objetivo apresentar o trabalho da Empresa e estreitar a relação entre as instituições.
O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, destacou a importância da interação entre a Embrapa e os assessores parlamentares, para que o conhecimento gerado pela pesquisa contribua de forma cada vez mais efetiva na formulação de políticas públicas. Ele lembrou que muitos dos problemas que chegam aos gabinetes parlamentares também são enfrentados no campo, reforçando a necessidade de manter um diálogo constante com a sociedade e o poder público, de modo que a pesquisa responda diretamente às demandas do setor.
Sebastião Pedro recordou que, há 50 anos, o Brasil era importador de alimentos, mas a pesquisa agropecuária transformou o país em um dos maiores exportadores mundiais. Agora, segundo ele, o desafio é avançar para um novo modelo de agricultura, menos dependente de insumos importados e mais fundamentado em processos biológicos, aproveitando as condições favoráveis do ambiente tropical.
O chefe-geral ressaltou que a atual dependência de insumos externos pesa no endividamento dos agricultores e compromete a competitividade do setor. “Por isso, a Embrapa vem desenvolvendo soluções que permitam uma agricultura mais barata, eficiente e sustentável, conciliando produtividade, equilíbrio ambiental e geração de emprego”. Ele ressaltou, no entanto, que avançar para uma agricultura menos dependente de insumos importados exige não apenas ciência, mas também investimentos contínuos e estáveis no orçamento da pesquisa agropecuária.
O chefe da Arig, Felipe Cardoso, apresentou a estrutura da Embrapa e destacou seu papel decisivo na transformação do Brasil de importador a grande exportador de alimentos — mérito que, segundo ele, não cabe apenas à Empresa, mas também ao empreendedorismo dos produtores rurais e às políticas públicas que sustentaram o crescimento do setor. Cardoso ressaltou a importância dos assessores parlamentares nesse processo, pois são eles que contribuem para a construção das políticas que direcionam a agropecuária brasileira.
Felipe Cardoso enfatizou que, para que a Embrapa continue cumprindo esse papel estratégico, é imprescindível a valorização do seu orçamento, de modo a garantir a execução de projetos, a manutenção de laboratórios e a formação de equipes qualificadas. Ele lembrou ainda que a Embrapa não oferece apenas produtos e técnicas de produção, mas também conhecimento científico que subsidia a formulação de políticas públicas. “Não somos apenas provedores de produtos, processos e técnicas de produção para o agro. Também geramos, nos centros de pesquisa, conhecimentos que ajudam na elaboração de políticas públicas, permitindo que parlamentares, autoridades e o governo federal tomem decisões baseadas em ciência”, afirmou.
Após as falas iniciais, os participantes seguiram para as estações de campo.
Na unidade de observação sobre revegetação do Cerrado, o pesquisador Felipe Ribeiro apresentou um panorama da trajetória da Embrapa na construção do conhecimento técnico e científico sobre o bioma, ressaltando sua relevância estratégica para o Brasil. Ele lembrou que as pesquisas iniciadas nos anos 1970 foram decisivas para transformar o Cerrado em uma das regiões agrícolas mais produtivas do mundo. “O que o produtor rural vai usar daqui a 30 anos é a pesquisa que começamos hoje”, destacou, reforçando a importância da continuidade dos investimentos em ciência e da formação de parcerias.
Ribeiro chamou atenção para o papel central do bioma na segurança hídrica do país e alertou para os desafios ambientais atuais: redução das chuvas, estiagens prolongadas, aumento da evapotranspiração e incêndios florestais. “Diante desse cenário, a Embrapa desenvolve tecnologias de adaptação, como sistemas integrados de produção, práticas de conservação do solo e uso eficiente da água”, afirmou.
Entre os projetos apresentados, destacou o Paisagens Rurais e o Biomas, realizados em parceria com a CNA e órgãos ambientais, voltados à recomposição de áreas degradadas e à promoção da agricultura sustentável; e o WebAmbiente, software que orienta produtores na recomposição ambiental, indicando espécies adequadas, custos, diagnósticos e monitoramento, garantindo também segurança jurídica para o cumprimento do Código Florestal.
O pesquisador defendeu ainda a valorização do produtor rural, muitas vezes visto como vilão, mas que desempenha papel fundamental na conservação ambiental. Para isso, propôs sistemas de recuperação ativa com espécies nativas de valor econômico, como pequi, baru, jatobá e araticum, capazes de gerar renda, fortalecer cadeias produtivas locais e tornar a recomposição mais viável. Ribeiro ressaltou também a importância do pagamento por serviços ambientais como forma de reconhecer e remunerar os produtores que conservam e restauram ecossistemas.
Ele apresentou exemplos de áreas experimentais da Embrapa com bancos de germoplasma, módulos de restauração e sistemas agroflorestais que conciliam produção e conservação. Segundo Ribeiro, esses estudos fornecem referências técnicas tanto para produtores quanto para instituições financeiras que apoiam projetos de recomposição. Por fim, citou dados do Balanço Social de 2023, que mostram que cada real investido na Embrapa retorna mais de 20 à sociedade. “Conhecer o Cerrado é valorizar esse patrimônio e planejar um futuro sustentável. E isso só será possível com bons parceiros, capazes de investir e caminhar juntos nessa missão”, concluiu.
Sistemas integrados
Na área experimental de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o pesquisador Roberto Guimarães Júnior apresentou os avanços e resultados dessa tecnologia. Ele explicou que a ILPF pode ser entendida como a possibilidade de ter “várias fazendas no mesmo local, ao mesmo tempo”, já que combina, em uma mesma área, cultivos agrícolas, pecuária e florestas. Segundo Guimarães, o Brasil é o único país do mundo que domina tecnologias capazes de produzir grãos na safra e na safrinha, integrar a pecuária na entressafra e, ao mesmo tempo, oferecer serviços ambientais como o sequestro de carbono, a conservação do solo e a eficiência no uso da água.
O pesquisador destacou a flexibilidade da ILPF, que pode ser adotada de diferentes formas, de acordo com a realidade de cada produtor. Um exemplo clássico, segundo ele, é a sequência soja, seguida de milho consorciado com forrageiras e, depois, pastagem para bovinos, ovinos ou caprinos. “Mas também é possível integrar florestas com eucalipto, árvores nativas ou frutíferas, compondo arranjos que podem ser aplicados em propriedades de todos os portes”.
Guimarães apresentou resultados práticos que demonstram a eficiência da tecnologia tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. “Em muitos casos, o pasto é considerado um bônus para o produtor, já que a receita da pecuária complementa ou cobre eventuais perdas da lavoura”. No aspecto ambiental, segundo ele, os ganhos também são expressivos. “As raízes profundas das gramíneas melhoram a infiltração de água, reduzem a erosão, acumulam carbono e favorecem a fertilidade do solo”.
O pesquisador ressaltou que a ILPF já é uma realidade consolidada no Brasil e representa tanto o presente quanto o futuro da agricultura sustentável. “A tecnologia permite ampliar a produção sem abrir novas áreas, melhora a qualidade ambiental e garante retorno econômico. A pesquisa já mostrou o potencial. Agora cabe ao produtor escolher o nível de integração que melhor se adapta à sua realidade”, afirmou. A estação contou também com a participação da pesquisadora Karina Pulrolnik.
Aproximação
Os assessores parlamentares destacaram a relevância do evento. Para Victor Aires, da Liderança da Oposição no Senado, a experiência foi enriquecedora. “Sou agrônomo, mas a pesquisa é muito dinâmica. É sempre bom uma capacitação como essa. No parlamento, muitas vezes ficamos distantes da ponta, de quem utiliza os recursos públicos. Conhecer de perto como eles são aplicados ajuda muito no momento de subsidiar o trabalho parlamentar”.
A assessora de emendas e orçamento do gabinete do deputado Kim Kataguiri, Taís Costa, também elogiou a iniciativa. “Momentos como esses são muito importantes, pois nos aproximam da realidade do campo. Reuniões em gabinete tendem a ser mais abstratas. Aqui, conseguimos entender melhor as necessidades da Embrapa e do setor”.
Já Tainá Aguiar, da Liderança do Governo no Senado, resumiu o sentimento do grupo. “É um orgulho imenso visitar a Embrapa. Dá vontade de transformar tudo o que vemos aqui em política pública, não apenas de governo, mas de Estado. Assim, a Embrapa continuará crescendo e entregando ao nosso país ciência de qualidade”.
A visita foi encerrada na vitrine de tecnologias implantada em comemoração aos 50 anos da Embrapa Cerrados.
Juliana Caldas (MTb 4861/DF)
Embrapa Cerrados
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