Lygia, a eterna


            *José Renato Nalini

            O vestibular da USP em 2026 oferece aos vestibulandos a oportunidade de ler ou reler Lygia Fagundes Telles, a nossa maior romancista. O livro escolhido foi “As Meninas”, de 1973, escrito no auge do autoritarismo. O pesquisador Fernando Breda analisa a obra, hoje muito distante do mundo da geração “nem-nem”, que pouco lê e que talvez desconheça a importância de Lygia.

            Ele recorda que “as meninas residem em um pensionato de freiras, que está praticamente vazio. No período em que transcorre o romance, há uma greve na universidade, e a maioria dos estudantes voltou para suas cidades”. São as meninas que contam a história. “Os estudantes podem pensar a história a partir de uma imagem que está no livro. Ou seja, uma pirâmide ou um triângulo, se o leitor preferir, no qual estão situadas em cada vértice as três personagens que estruturam o andamento do enredo: Lia, Ana e Lorena”.

            As reflexões das jovens, seus pensamentos, são mais importantes do que o próprio enredo. O livro é dividido em doze capítulos, cada qual contemplando uma das garotas. Fernando Breda não se arrisca a dizer se os vestibulandos de 2026 são muito diferentes da juventude dos anos setenta. Mas propõe que os jovens leitores leiam “As Meninas” “como um espelho quebrado, no qual podem exercitar um jogo de identificação e desidentificação com as vidas das personagens”.

            

Lygia, com quem tive o privilégio de conviver, sempre ansiava por leitores. Em todas as suas palestras, clamava: “Leiam-me! Leiam-me! Eu preciso de vocês!”. Sobre Lygia, falecida em 3 de abril de 2022, críticos literários de todo o mundo a consideraram uma das notáveis prosadoras da literatura brasileira. “As Meninas” foi livro traduzido e publicado na Argentina, Estados Unidos, Alemanha, Holanda, França, Itália, Sérvia, Japão e Eslováquia. Foi adaptado para o cinema em 1995, sob a direção de Emiliano Ribeiro, com as atrizes Adriana Esteves, Drica Moraes e Cláudia Liz.

            Quem escreveu como Lygia, com o seu profundo conhecimento sobre a alma feminina, viverá eternamente. Sorte de quem mergulhar no prazer de ler “As Meninas” e de toda a obra dessa paulistana que é uma das maiores legendas desta terra de Piratininga.

 

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. 

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