*José Renato Nalini
O Brasil oscila entre promissora
promessa verde e pária ambiental. Quer fazer bonito na COP 30 em novembro, com
a Belém do Pará suscitando tanto interesse da comunidade internacional e, simultaneamente,
libera dezenove novas áreas para exploração de petróleo na bacia Foz do
Amazonas.
Permite o desmatamento ilegal,
marcando prazo para que ele cesse. A lembrar a triste anedota da vítima de
estupro que estipula trinta minutos para que o estuprador saia de cima dela.
Invoca os eventuais e futuros ganhos com o petróleo que só começará a ser
produzido – isso se a prospecção for exitosa – como fomento para a
desfossilização. É o mesmo que representaria marketing das indústrias de fumo,
em construção de hospitais para cancerosos do pulmão.
Para culminar a contradição, lançou
o Balanço Ético Global – BEG, em inglês GST – Globl Stocktake, mecanismo
previsto pelo Acordo de Paris, para avaliar o progresso dos países rumo às suas
metas de redução na emissão dos gases venenosos causadores do efeito-estufa.
A iniciativa é bonita e pueril. Não
se coaduna com o que o Brasil tem evidenciado no retrocesso ecológico, algo
decepcionante para um governo que trouxe de novo Marina Silva, a grife verde,
outra vez desprestigiada e ofendida quando levanta a sua voz lúcida e coerente,
em favor da maltratada natureza.
É muito bonito trazer a dimensão
ética para o discurso ecológico. Mas ele precisa ser afinado com a política
integral. Vai na contramão daquilo que se conhece: a nefasta consequência do
uso excessivo dos combustíveis fósseis, permitir que se prossiga na exploração
do petróleo. Ele já serviu, já foi útil, mas agora está matando a humanidade. Que
falta de juízo acomete um governo que tem um discurso edificante e uma prática
decepcionante.
Como deve estar sofrendo a Ministra
do Meio Ambiente ao verificar que a tutela da natureza é um tópico irrelevante
para um governo que também permite aprovação de projetos de lei de extermínio
do nosso patrimônio ambiental, o famigerado PL da devastação. Até quando ela
resistirá, ou terá de novamente abandonar o barco furado, num previsível “déjá
vu”?
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