*José
Renato Nalini
Pouca gente se interessa por saber
que a água que consumimos está contaminada. Nela se encontram coliformes
fecais, resíduos de fármacos – antibiótico, anticoagulante, antidepressivo, anticoncepcional,
antitudo... – mais cocaína, expelida pela urina e os malditos microplásticos.
Enquanto não houver juízo total da
sociedade, as represas continuarão alvo de toda espécie de imundície nelas
arremessadas. A destruição da mata nativa na região dos mananciais é um
fenômeno trágico, para o qual não se presta a devida atenção.
No cenário de péssimas notícias –
pois deve se acrescentar a ele a proximidade de escassez hídrica – encontra-se
um pequeno lume de esperança. É que pesquisadores brasileiros descobriram que
microalgas conseguem remover da água resíduos de antibióticos.
O estudo foi feito na Universidade
Federal do ABC, Universidade Federal de Itajubá e USP, com apoio da FAPESP, a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Os resultados foram publicados no
Biochemical Engineering Journal e dão conta de duas frentes: o cultivo da
espécie de microalga em um fotobiorreator na presença de antibióticos comumente
utilizados no Brasil e encontrados em efluentes e corpos d’água. Depois, o
experimento para a comprovação de que a microalga conseguiu se desenvolver e
crescer naquele ambiente contaminado e remover de 27% a 42% dos medicamentos.
Vantagem adicional desse processo é
que a microalga produziu uma biomassa com potencial valor comercial, com
viabilidade para a produção de biodiesel. É uma notícia promissora, mas deve
ser encarada com cautela. Pois o experimento foi feito em laboratório e não há
previsão de possibilidade de uso nas estações de tratamento de água e esgoto,
cujas condições são muito diferentes. Por isso, a receita ainda é combater a
ocupação irregular, clandestina e criminosa da região dos mananciais, única
forma de impedir que antibióticos e outros elementos expelidos na urina e
fezes, deixem de comprometer a água que depois beberemos.
A questão ambiental não é uma defesa
exclusiva da natureza. É a defesa da saúde e, portanto, da vida. Todos deveriam
se interessar por ela.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo
das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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