USP anuncia pesquisa inédita sobre a demanda por bens e serviços ilícitos no Brasil e lança bolsas de Doutorado para investigação sobre o mercado ilegal de cigarros eletrônicos e produtos de tabaco

 

 


Na foto, os palestrantes Leandro Piquet, Professor e Coordenador da ESEM-USP e Rodney da Silva, Diretor de Operações Integradas e de Inteligência da SENASP/MJSP
  • Anunciado durante o primeiro dia de seminário internacional sobre segurança pública e mercados ilícitos, o levantamento domiciliar com a população pretende traçar um panorama sobre a demanda de bens e serviços ilegais no país, enquanto o programa de bolsas investigará a distribuição de produtos clandestinos e sua relação com o crime organizado
     
  • O evento reuniu especialistas brasileiros e internacionais em crime organizado, terrorismo, crimes transnacionais e cibercrime, como os professores Michael Miklaucic, Mark Shaw, Gretchen Peters, Benjamin Lessing, Rodrigo Soares, Rashimi Singh e Jorge Lasmar

 A ESEM, Escola de Segurança Multidimensional da Universidade de São Paulo, anunciou na manhã desta terça-feira, 24, a realização da 1º Pesquisa Nacional da Demanda de Bens e Serviços Ilícitos, que coletará dados inéditos sobre o consumo e a circulação de produtos ilegais e de produtos legais comercializados de forma ilegal no Brasil, como roupas, cigarros, cigarros eletrônicos, bebidas alcoólicas e aparelhos eletrônicos, com o objetivo de mensurar a demanda por esses bens e subsidiar políticas públicas no enfrentamento à economia ilegal, que movimenta bilhões de reais por ano.

 

A divulgação do início da pesquisa, que será lançada no segundo semestre de 2025, aconteceu na abertura do Seminário Internacional Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina: Construindo uma Agenda de Ação. Realizado em São Paulo, nos dias 24 e 25 de junho, o evento é coordenado pela Cátedra Oswaldo Aranha de Segurança e Defesa (COA).

 

No mesmo dia, a ESEM anunciou um programa de bolsas de doutorado voltado à investigação sobre o mercado ilícito de cigarros eletrônicos e produtos de tabaco e nicotina, com foco na atuação do crime organizado na região da Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina). Os bolsistas serão responsáveis por coletar e analisar dados sobre o comércio irregular de produtos de nicotina e tabaco, com foco na atuação de organizações criminosas e agentes facilitadores do contrabando, e da circulação de produtos proibidos, falsificados ou contrafeitos. As inscrições poderão ser feitas em breve pelo site da ESEM: Link.

 

O anuário e o programa de pesquisa serão liderados pelo professor Leandro Piquet, especialista em segurança pública e coordenador da ESEM.

 

“As consequências dessas atividades impactam a economia formal, resultando em perda de receita tributária, concorrência desleal e fragilização das políticas de saúde e segurança. Fortalecidas neste cenário, essas organizações seguem ampliando a sua capacidade de corromper instituições e agentes públicos, dominando territórios cada vez mais abrangentes”, explica o professor Leandro Piquet.

 

Especialistas de renome internacional abrem os debates

O primeiro dia do fórum reuniu autoridades brasileiras do sistema de Justiça e especialistas internacionais para debater estratégias, legislações e formas de cooperação no enfrentamento às organizações criminosas. A abertura foi feita pelo titular da Cátedra e um dos principais especialistas globais em segurança transnacional, Michael Miklaucic. "O Brasil não é um país que vive em guerras internacionais e não será bombardeado, mas está cercado pelas organizações criminosas transnacionais", destacou em seu discurso.

 

Rodney da Silva, diretor de Operações Integradas e de Inteligência da SENASP/MJSP, também esteve presente à abertura do evento e explicou que um dos maiores desafios da segurança pública no país, em especial em relação ao enfrentamento ao crime organizado, é a necessidade de integração das agências de aplicação da lei penal. “Uma das iniciativas do Ministério da Justiça é exatamente a questão da discussão sobre a PEC da Segurança Pública que traz, respeitando a autonomia e independência dos Estados, esse sentido de coordenação única, da criação de protocolos e sistemas padronizados. Esse é o grande desafio”, destacou.

 

Entre os palestrantes do período da manhã, se destacaram: Mark Shaw, referência mundial em crime organizado, governança criminal e mercados ilícitos; e Gary Korn, uma das principais autoridades nos Estados Unidos em Cibercrime e Cibersegurança. “Economias ilícitas alimentam o crime organizado e criam conflitos crescentes. Grande parte do comércio ilícito é feito abertamente na internet, nas plataformas de comércio eletrônico e redes sociais”, explicou Shaw, diretor da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC). O painel foi moderado pela ex-Consultora e Conselheira Interregional Sênior do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Sandra Valle. “Não existe no Brasil uma lei de cooperação internacional em matéria criminal. Como é que pode?”, resume Sandra.

 

À tarde, a programação inclui as palestras de Gretchen Peters, cofundadora da Alliance to Counter Crime Online (ACCO), com reflexões sobre a convergência entre terrorismo e crime online; e Rashmi Singh e Jorge Lasmar, referências em terrorismo internacional e radicalização que trataram da atuação de grupos extremistas na América Latina durante painel conjunto.

 

Segurança pública e agenda legislativa serão destaques do segundo dia

O segundo dia do evento contará com participações nacionais e internacionais e a presença de lideranças políticas. Estão confirmados os deputados federais Pedro Paulo (RJ) e Tábata Amaral (SP), que apresentarão a nova agenda legislativa do Fórum de Segurança Pública da Câmara dos Deputados. As propostas desenvolvidas pelo Fórum abrangem desde a regulação de mercados vulneráveis à infiltração do crime organizado, crimes cibernéticos, ilícitos financeiros e controle de territórios por organizações criminosas.

 

  • Benjamin Lessing (University of Chicago), especialista em violência política e governança criminal na América Latina;
  • Rodrigo Soares (Insper), pesquisador em desenvolvimento, segurança pública e políticas sociais;
  • Will Freeman (Council on Foreign Relations), com foco em Estado de Direito, corrupção e relações EUA-América Latina;
  • Lincoln Gakiya, promotor do Ministério Público de SP, referência no combate ao crime organizado;
  • Giovanni Melillo, Procurador Nacional Antimáfia e Antiterrorismo da Itália, com quatro décadas de atuação no Judiciário;
  • José Adônis Sá, vice-procurador-geral da República e coordenador do Gaeco Nacional;
  • Fábio Bechara, promotor de Justiça do MP-SP e referência no enfrentamento ao crime organizado e à corrupção sistêmica no Brasil.

Mais fotos do evento: Link

Crédito do fotógrafo: Alex Sandro

 

Sobre a Cátedra:

A Cátedra Oswaldo Aranha de Segurança e Defesa (COA) foi instituída pela USP para fomentar a produção acadêmica nas áreas de segurança e defesa, com ênfase na cooperação internacional e no enfrentamento dos desafios contemporâneos representados pelo crime organizado e sua transnacionalização. Sediada no IRI e coordenada pela ESEM, a Cátedra promove o diálogo entre universidade, setor público, sistema de justiça e setor privado sobre temas como crime organizado, mercados ilícitos, terrorismo e insurgência criminal. A COA é patrocinada pelo programa PMI IMPACT, financiado pela Philip Morris Brasil. O PMI IMPACT é uma iniciativa da Philip Morris International que financia projetos de organizações públicas, privadas e acadêmicas dedicadas ao combate ao comércio ilegal.

 

Sobre a Escola de Segurança Multidimensional (ESEM):

A ESEM é um centro de formação profissional e pesquisa vinculado ao Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, dedicado a temas de segurança, defesa e justiça criminal.

Comentários