Comendo o planeta



            *José Renato Nalini

            O consumo de carne animal é disseminado em nosso país, mas tem evidentes impactos ambientais. Cynthia Schuck e Raquel Ribeiro escrevem sobre isso, num livro que está na quarta edição e que tem o título deste artigo. É preciso pensar o que significa o abate de trinta e quatro milhões de bovinos, cinquenta e sete milhões de porcos e seis bilhões e dois milhões de frangos, no ano de 2023.

            Cada animal desses precisa de uma quantidade específica de terra, água, alimento e energia. E produz expressiva quantidade de dejetos. Tudo a emitir os gases venenosos causadores do efeito-estufa, geradores do aquecimento global de que derivam os fenômenos extremos das emergências climáticas.

            A manutenção de bilhões de animais como estoque vivo de alimento representa imensa pressão sobre todos os ecossistemas da Terra. A pecuária é uma das maiores fontes de degradação ambiental. Exige áreas extensas, volume imenso de recursos naturais e energéticos e gera bilhões de toneladas de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. A criação de animais para consumo humano é um dos principais fatores responsáveis por crises ambientais gravíssimas, incluindo desmatamento, desertificação, perda de biodiversidade, escassez de água doce, poluição hídrica e erosão do solo.

            A saúde talvez seja o principal apelo a que se reduza o consumo de carne vermelha. Pois a maioria das zoonoses, doenças infecciosas de animais transmissíveis a seres humanos, está ligada à criação e ao consumo de animais. De quando em sempre surgem notícias sobre enfermidades em animais, o que interrompe o fornecimento desse insumo que o Brasil exporta para grande parte do mundo.

            Também compromete a qualidade de vida humana a emissão crescente de gases causadores do efeito estufa. A pecuária é responsável por 18% das emissões em todo o planeta e, no Brasil, o cenário é ainda mais alarmante. A cadeia de produção da carne bovina emitiu 1,4 bilhão de toneladas brutas de CO2, ou seja, 77,6% das emissões dos sistemas alimentares no Brasil.

            Manter o padrão de consumo de carne, laticínios e ovos é insustentável. É plenamente possível substituir tais itens por inúmeras alternativas vegetais de valor nutricional equivalente. Pense a respeito e comece por ler “Comendo o Planeta”, editado pela Sociedade Vegetariana Brasileira.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

 


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