*José Renato Nalini
As consequências dos desastres
climáticos vão muito além dos prejuízos ambientais. A mais grave delas é a
saúde. O desmatamento faz proliferar dengue, febre amarela e outras doenças
cujos nomes só apareceram recentemente. As ondas de calor matam mais do que as
ondas de frio. Quando se desmata, permite-se que haja assoreamento, que a terra
deslize, que haja deslizamento, soterramento e morte.
Morte nas enxurradas, correntezas
que se formam por causa da impermeabilização do solo. Mortes desnecessárias e
precoces. A morte deveria ser o ato final de uma vida usufruída com qualidade e
dignidade. Morrer esmagado por desmoronamento ou afogado nas inundações atenta
contra a lógica racional.
Mas um fator que contribui para a
proliferação desses episódios é a impunidade. Impunidade de quem invade as
áreas de mananciais e constrói ali, com a conivência de quem deveria impedir a
invasão. Impunidade de quem descarta resíduo sólido em lugar inadequado, o que
ajuda a causar entupimento de bueiros, de córregos, de bocas-de-lobo.
Isso acontece em todo o Brasil. 75%
dos casos de desmate e queimada restam impunes. Desde 2019, só em 1.385 dos
5.406 inquéritos houve indiciamento do autor do crime. A inércia na política
estatal da regularização fundiária não deixa identificar o dono da terra, nem
sempre o responsável. Mas cúmplice quando se trata de destruição do
remanescente da Mata Atlântica na região dos mananciais que abastecem de água a
população paulistana.
Os incêndios criminosos ficam na
conta do futuro. Sofrerão as próximas gerações, inocentes que pagarão pela
negligência ou ineficiência de quem deveria zelar por esse patrimônio da
humanidade que é a mata. Por exemplo: nem vinte por cento de inquéritos apontaram
o responsável por atear fogo à floresta. Foram 72 dos 361 inquéritos que
chegaram ao indiciamento.
É urgente intensificar a
fiscalização. Em todos os níveis e em todos os lugares. Fomentar na cidadania a
responsabilidade ecológica por denunciar crimes ambientais. Conscientizar a
todos de que não é apenas uma obrigação. É uma legítima-defesa. Sem isso,
pereceremos todos.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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