Ecossistema de ilicitudes

 


            *José Renato Nalini

            Não é fácil retomar a condição de “promissora potência verde”, que o Brasil ostentava há alguns anos. Isso porque a Amazônia continua a sofrer a ação de organizações criminosas internacionais. Ali, o crime compensa. Os grupos locais logo se aliam às gangues internacionais. Juntos cometem crimes ambientais, traficam drogas, exploram pessoas, matam indígenas.

            A floresta é celeremente destruída. Fica na promessa o aceno à criação de economias verdes, evidenciadoras de que a floresta em pé é mais rentável do que abatida por motosserra ou pelos correntões puxados por dois tratores.

            É preciso uma estrutura de peso para arregimentar aqueles que foram cooptados pelo crime e fazê-los se compenetrar de que a licitude é mais segura e mais lucrativa. Sabe-se que os que realmente lucram com a delinquência não estão no alvo das apurações e investigações. Mesclam-se com pessoas tidas por ilustres, aparentam conformidade com a lei e com a ética. Mas alimentam essa cadeia podre de ilícitos em profusão.

            Aquilo que é dádiva da natureza atrai o malfeitor. A abundância de recursos naturais convive com a ausência do Estado, impregna-se de corrupção e se vale da mais completa irregularidade fundiária.

            Perpetra-se a delinquência à la carte: crimes ambientais, grilagem de terras, tráfico de madeira, animais e até de indígenas, mineração ilegal, mortandade dos que não se ajustam às leis do cangaço.

            São as comunidades mais vulneráveis que sofrem as piores consequências. Existe um Tratado de Cooperação Amazônica, mas parece que ele não é observado como deveria. Propõe a empreendedora cívica Ilona Szabó de Carvalho a “implementação de um plano de segurança multidimensional para a região, em colaboração com os países vizinhos”.

            Simultaneamente, deve-se regular o mercado de carbono e fazer com que ele possa atrair o capital internacional. Investir em bioeconomia, turismo sustentável e biotecnologia. Há tanto a ser feito!

            Mais perto de nós, em outra escala, os mananciais do extremo-sul paulistano continuam sendo ameaçados de extinção, com a microcriminalidade também organizada, que desafia o poder público e vai comendo o miolo dos derradeiros remanescentes – verdadeiros resíduos – da Mata Atlântica. O verde pede socorro e seria excelente fosse ouvido por todos!

 

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.        

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