*José Renato Nalini
Inconsequentes, caloteiros,
irresponsáveis. Somos nós, os humanos, que já esgotamos todos os recursos
naturais que o planeta tem a oferecer. Desde 2006, a organização não
governamental Global Footprint Network divulga um relatório que provém de um
cálculo entre a pegada ecológica das atividades humanas e a capacidade da Terra
de se regenerar e absorver nossa poluição.
Neste ano de 2023, o “Dia da
sobrecarga da Terra” chegou cinco dias mais tarde, se comparado com o ano
passado. Tudo entra no cômputo dos pesquisadores: pesca excessiva e predatória,
desmatamento, absorção de carbono pelos oceanos. Faz-se uma contabilidade entre
as perdas e a constatação científica do que o planeta poderia fazer e em que
prazo.
O ideal seria que a constatação da
falência de nossa civilização ensejasse uma reação da consciência do
bicho-homem, para que ele enfim se convertesse e abandonasse a política insana
da destruição do meio ambiente. Não é o que ocorre. Infelizmente, as más
práticas prosseguem, simultaneamente a um discurso edificante, porém desacompanhado
de uma política estatal executiva hábil e vigorosa para reverter o descalabro.
Desde o dia em que se constata a
exaustão da Terra, o planeta passa a viver a crédito, o que significa existir
em déficit ecológico. Na ficção, para cumprir apenas aquilo que já foi acordado
pelos governos nacionais, a data deveria ser adiada em dezenove dias, todos os
anos, e durante os próximos sete anos. Só assim estaríamos próximos à redução
das emissões de gases do efeito estufa em 43% até o ano 2030.
É um cálculo matemático, baseado em
ciência, que a humanidade ignora. Prossegue nas práticas nefandas de derrubada
de árvores, poluição generalizada – terra, água e ar – produção excessiva de
resíduos sólidos. Os homens escolheram abreviar a duração da experiência humana
sobre o sofrido Planeta Terra.
Paradoxal que, à proporção do avanço
da ciência e das tecnologias, prossiga a humanidade no programa de extermínio
de toda espécie de vida planetária. Esquece-se de que não é a Terra que corre
perigo: é a humanidade. A Terra poderá continuar a existir como planeta perdido
numa galáxia que não é a maior, nem mais a importante do Universo. Mas
prescindirá da espécie humana para isso.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da ACADEMIA PAULISTA DE
LETRAS.
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