Paraguai quer apoio do Brasil para transformar economia do Mercosul

 

Em visita à ACSP, o presidente recém-eleito Santiago Peña Palácios (esq.) se encontrou com o dirigente da entidade, Roberto Mateus Ordine, para se aproximar do empresariado brasileiro

Karina Lignelli
28/Jul/2023


Paraguai quer apoio do Brasil para transformar economia do Mercosul

Fazer o Paraguai entrar na agenda do Brasil, tanto do governo quanto do empresariado, para firmar uma parceria que traga de volta emprego, renda e desenvolvimento aos países do Mercosul.

É com esse espírito de transformação que Santiago Peña Palácios, 44, recém-eleito presidente do país, inicia seu mandato no próximo dia 15 de agosto.

Em visita à Associação Comercial de São Paulo (ACSP) na última quinta-feira (27/07), foi recepcionado pelo presidente da entidade, Roberto Mateus Ordine, que ajudará a fazer a ponte com empresários para ampliar a competitividade dos dois países.

Integrante do Partido Colorado, de viés mais à direita, o mais jovem estadista do Paraguai deixou clara sua disposição em trabalhar "nem à direita, nem à esquerda, mas para todos os paraguaios".

E pretende, em conjunto com o governo Lula, com quem se encontra pela terceira vez nesta sexta-feira, 28/07, para falar sobre a revisão do Tratado da Usina de Itaipu, desenvolver uma agenda de transição econômica - da atual exportação de produtos primários para a exportação de bens e tecnologia. 

Passando por um bom momento de estabilidade econômica e fiscal, o Paraguai registrou crescimento do PIB de 5,2% no primeiro trimestre deste ano, apesar do ainda alto índice de desigualdade (24,7%). 

De acordo com Rita Campagnoli, coordenadora de Comércio Exterior da ACSP, que também participou do encontro, o Paraguai é o segundo país com o maior estoque de investimento estrangeiro direto, e conta com a segunda maior comunidade de brasileiros, ou "brasiguaios", no exterior (330 mil). 

Também citou estimativas de que 70% das exportações do Paraguai para o Brasil são resultado do Projeto Maquila (incentivo fiscal para atrair empresas estrangeiras a investir em território paraguaio). 

"O país parece pequeno ao lado do Brasil, mas é maior que a Alemanha, tem estabilidade econômica e política e gente com vontade de progredir", disse Palácios, que aposta na boa relação com o governo e empresariado brasileiro para mudar a imagem do Paraguai. 

ALIANÇAS 

Levar a relação bilateral a "um nível nunca visto antes", mesmo o Brasil sendo um parceiro antigo e o principal do Paraguai, é uma das metas de Palácios. Para fortalecer essa parceria, ele destacou o encontro que terá com o presidente Lula nesta sexta (28), e os que teve em São Paulo com o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes. 

"Também temos de mobilizar todas as organizações. A ACSP, com mais de 128 anos de história, trará oportunidades para que o Paraguai possa ter abertura com as empresas, levando empregos para o país, e trazer os que estão fora do Mercosul para o bloco."

Ele lembrou que os bens importados da Ásia por Brasil, Uruguai e Argentina podem ser produzidos por trabalhadores brasileiros, paraguaios e outros do bloco. "A parceria que estamos buscando servirá para gerar alianças e garantir que os empregos fiquem em nossa região, além de aumentar a competitividade das nossas empresas, sejam elas grandes, médias e pequenas."

VAREJO

Ainda que a indústria, beneficiada pelo Projeto Maquila, e o agronegócio sejam os pontos fortes da economia paraguaia, há um movimento tímido, mas constante, de empresas de varejo e franquias que iniciam o processo de internacionalização no país, como a Casa do Construtor. 

Perguntado sobre os benefícios que o país oferece para atrair empresas do setor, Palácios citou o ambiente favorável de negócios, gestão macroeconômica responsável, estabilidade política-econômica e inflação, juros e impostos mais baixos que outros países da América do Sul. 

Destacou também que o país é uma grande plataforma de produção de grãos, proteína, e de desenvolvimento industrial. E que mira o Brasil como um parceiro importante de tecnologia, para que os dois países voltem a ganhar competitividade nesse último quesito. 

"O problema é que esse ainda é 'um segredo bem guardado', o Paraguai não tem imagem." Por isso, o grande desafio, disse, é compartilhar a validade do que já se vem fazendo. "Além de estável, temos um setor público pequeno, porém eficiente, que dá espaço para o setor privado se desenvolver." 

MERCOSUL E UNIÃO EUROPÉIA

Santiago Palácios acredita que, com Lula à frente do Mercosul deve ajudar a desenrolar o tão desejado acordo comercial com a União Européia. Além de ser a maior economia do bloco, a liderança do Brasil fará diferença, disse. 

"O Mercosul é o maior produtor de proteína do mundo, e o mundo hoje tem o desafio de gerar alimentação para o povo. E a nossa região é a única que tem condições para isso", afirmou. "Temos que confiar em nós mesmos, e na capacidade que temos de avançar nesse processo de integração." 

ITAIPU

Apesar de questões apontadas como impasse - caso do excedente de tarifa de energia, por exemplo -, a revisão do Tratado do Itaipu, prevista para o próximo dia 13/08, é vista com otimismo pelo novo presidente do Paraguai, que considera a parceria binacional como "algo magnífico". 

"Com menos tecnologia e menos conhecimento, paraguaios e brasileiros sonharam com a construção de uma represa. Foi construída, opera em ótima condição, e a dívida foi paga. E, 50 anos depois, ela segue sendo a maior geradora de energia limpa do mundo."

Palácios frisou que não vê impasse na questão pois, além da opção de baixar a tarifa, também há a opção de gerar investimentos por meio de um fundo nacional. O retorno, disse, vai ser maior do que o resultante de uma pequena queda nos preços, já que ela é a mais barata do mercado.

"O Paraguai necessita desenvolver o país, o Brasil diminuir a pressão tributária, e Itaipu pode se tornar a maior geradora de desenvolvimento para que, nos próximos 50 anos, os dois estejam entre os países mais desenvolvidos do mundo. Eu acredito que é possível."

Realista ao afirmar que a conversa sobre Itaipu não será decidida no encontro desta sexta-feira com o presidente Lula, o presidente do Paraguai destacou a importância de governadores e prefeitos também se posicionarem sobre a questão dos investimentos, assim como o peso dos Estados - em especial São Paulo -, para também tomarem decisões locais sobre a hidrelétrica.

"Os US$ 100 bilhões que o Brasil importa da Ásia a cada ano, são US$ 100 bilhões que podem ser investidos aqui com mão de obra paraguaia, gerando imposto, emprego e desenvolvimento, o que significa que São Paulo vai se desenvolver mais", afirmou. "Mas é uma questão que vai ser discutida a longo prazo, e não sobre o que é bom para o Paraguai ou bom para o Brasil, mas o que vai ser bom para os dois."

PARCERIA TAMBÉM PREVÊ CAPACITAÇÃO

Na ocasião da visita, Wilson Victorio Rodrigues, diretor da Faculdade do Comércio de SP (FAC-SP), entregou uma carta de intenções ao governo paraguaio para desenvolver parceria de capacitação em cursos de graduação e pós-graduação em EAD a profissionais do comércio e do varejo do país. 

Também participaram do encontro na ACSP os embaixadores Rubén Ramirez Lezcano, futuro ministro de Relações Exteriores do Paraguai, e Juan Angel Delgadillo, embaixador paraguaio no Brasil.

IMAGEM: Alan Silva/ACSP

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