*José Renato Nalini
Os cientistas avisaram, ninguém
ouviu. Os ambientalistas admoestaram, todos ridicularizaram. O governo
incentivou grilagem, incêndio criminoso, soltou a “boiada” em aviso geral:
façam o que quiserem, grileiros, ocupantes clandestinos, garimpeiros em áreas indígenas
ou ambientais.
O resultado já se faz sentir.
Descontrole climático, calor escaldante fora de tempo, inundações,
deslizamentos, mortes e tudo o que advém da vingança da natureza.
A revista científica chamada
Comunicações Terra e Desenvolvimento publicou uma pesquisa que apurou um
aquecimento crescente e muito perigoso. Os homens firmam acordos e sabem que
não vão cumpri-los. É óbvio: os mandatos são curtos, utilizados – na maior
parte das vezes – para enriquecer os eleitos, políticos profissionais que nada
têm a ver com a busca do bem comum.
Têm consciência de que seus mandatos
terminarão antes da data fatal para cumprimento dos acordos. Quem vier que se
arranje. Hoje sabe-se que 39 graus centígrados já é uma temperatura perigosa.
Gera câimbras e exaustão, podendo chegar a derrames. Se a temperatura subir
ainda mais – e isso ocorre nos trópicos e aconteceu neste outono na França,
Itália, Alemanha e Áustria –os derrames não se tornam apenas possíveis. São
prováveis.
Todos sabem a receita e teimam por
fazer de conta que é impossível recuperar as florestas desmatadas, restaurar as
áreas incendiadas, fazer o plantio planetário de um trilhão de novas árvores,
promessa de que – se tudo desse certo – daqui a cinquenta anos voltaríamos ao
estágio normal, de que nos afastamos deliberadamente.
O cenário é mais do que trágico: é
tétrico. Emissões altas farão com que os dias extremamente perigosos, nas
regiões tropicais e subtropicais, ultrapassarão os 15% para chegar a 25% ou
mais. Isso significa muito mais mortes desnecessárias. Que poderiam ser
evitadas.
É uma corrida louca e já foi dado o
disparo: a humanidade acelerando o seu ritmo rumo à mortandade e à fabricação
de um deserto. Onde, por certo, não haverá qualquer chance de espécie alguma de
vida.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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