*José Renato Nalini
África, tão cheia de magias e de
encantos, está cada vez mais próxima do Brasil. Dela veio expressivo percentual
de nossa gente. Seu ritmo, colorido, alegria, sabor e sensualidade nos
moldaram. Precisamos cultivar ainda mais essa intimidade. Somos tão
semelhantes! Tudo nos aproxima, nada nos afasta!
Tudo isso me enternece após a
leitura de “África em prosa, versos e reversos”, de Frances de Azevedo.
Encantada com esse imenso continente, relata sua viagem à África do Sul e deixa
clara a profunda e agradável impressão que a visita lhe causou.
Desde logo, fornece uma pista para
melhor compreendermos a disfuncionalidade da política brasileira: a África do
Sul possui três capitais: Pretória, para o governo. Cape Town, para o
Parlamento. Bloemfontein para a Justiça. É a solução também adotada no Chile. A
promiscuidade incestuosa de Brasília não poderia ser mais prejudicial ao
desenvolvimento tupiniquim. Isso explica boa parte de nossos problemas.
Encontro outro ponto relevante de
identidade: o culto a Mandela, um harmonizador das gentes, que permaneceu
fisicamente encarcerado, mas liberto em seus ideais. Comove-me lembrar que
Nelson Mandela, em momentos de fragilidade, repetia o poema Invictus, de Willian
Ernest Henley, que poderia representar, metaforicamente, o que sentem os
patrícios neste momento da vida nacional: “Dentro da noite que rodeia/Negra
como um poço de lado a lado/Agradeço aos deuses que existem/Por minha alma
indomável! / Sob as garras cruéis das circunstâncias/Eu não fremo e nem me
desespero/Sob os duros golpes do acaso/Minha cabeça sangra, mas continua
erguida/ Mais além deste lugar de lágrima e ira/ Jazem os horrores da
sombra/Mas a ameaça dos anos/Me encontra e me encontrará sem medo/Não importa
quão estreito o portão/Quão repleta de castigo a sentença/Eusou o senhor de meu
destino/Eu sou o capitão de minha alma!
É um hino de esperança, que deve nos
animar a todos. O livro de Frances Azevedo ainda tem poemas, grande parte deles
exaltando a igualdade entre os humanos, para enfatizar quanta indigência habita
a mente obscura dos infelizes racistas.
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
Comentários
Postar um comentário