por Andréa Ladislau, doutora em psicanálise
Vivemos um momento inusitado e inédito com a pandemia,onde a
ocorrência do medo, do estresse, da angústia e do pânico tornam-se
reais diante de um inimigo invisível. Neste sentido,as pessoas que
sofrem com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) podem ter seu quadro
psíquico agravado em função do isolamento social. O Coronavírus pode
reforçar esse comportamento por ser um estímulo externo que alimenta a
instabilidade do portador da doença. Essa piora é individualizada e vai
se manifestar em cada pessoa de uma maneira. Mas o transtorno pode se
potencializar, se já existir uma tendência compulsiva e exagerada na
lavagem das mãos ou no excesso de limpeza.
O TOC é uma disfunção psicológica associada a um “conjunto de
manias” que apresenta compulsões e repetições nos hábitos executados, de
forma involuntária e que trazem prejuízos funcionais no cumprimento das
tarefas cotidianas. A pessoa passa a criar rituais, desenvolvendo em
sua mente preocupações excessivas, pensamentos impróprios e distorcidos -
com conteúdos obsessivos e dúvidas constantes -, além de demonstrar uma
alternância emocional pautada por desconforto, aflições, sentimento de
culpa, medo e até comportamentos depressivos. Esses rituais compulsivos
podem ser desenvolvidos no campo da higienização pessoal e do lar, na
organização em geral, na simetria ou no colecionismo, variando de
intensidade ao longo da evolução da doença. Se já houve a definição do
diagnóstico de TOC e a pessoa realiza acompanhamento com profissional de
saúde mental, é muito importante não abandonar o tratamento e não se
auto medicar. A falta de controle dos sintomas pode agravar a condição
deste quadro.
Mas se a preocupação com a higiene e limpeza não passa de uma
elevação dos cuidados e precauções, no sentido de cumprir as orientações
em decorrência da pandemia e que, apesar das mudanças necessárias de
rotina, não houve abalo ou prejuízos na realização das atividades
normais, certamente não é um caso de TOC. Lavar as mãos a todo momento,
utilizar álcool em gel, usar máscaras, higienizar objetos, produtos e
alimentos fazem parte das recomendações dos órgãos competentes para
eliminarmos os riscos de contaminação pelo vírus, nos mantendo
protegidos e protegendo a quem amamos. Ou seja, preocupações normais
dentro do cenário ao qual temos que conviver, desde a descoberta da
pandemia, e que são atos prudentes que fazem parte de nosso instinto de
sobrevivência e defesa. Não podemos descuidar. Isso não irá provocar um
Transtorno Obsessivo Compulsivo.
O mais importante é encarar esse processo e as novas mudanças de
hábitos de forma consciente, considerando um ritual necessário e
preventivo, sem transformá-lo numa neurose paranóica, agravada por medos
irracionais e obsessivos. Assim, eliminamos qualquer indício de
ansiedade, de sentimentos negativos ou de alteração de humor frequente. A
preocupação excessiva com a desinfecção só será considerada um
transtorno se estiver associada ao sofrimento com alterações de
comportamento, pensamento e emoções - gerando também uma desestrutura
emocional, comprometendo o equilíbrio e podendo até desencadear uma
fragilidade do sistema imunológico.
Portanto, para manter a sua saúde mental e o organismo equilibrados
-agora ou até mesmo quando o isolamento social terminar -, mantenha
conscientemente a calma, objetivando eliminar o pânico e o medo. Siga as
orientações de cuidado e prevenção, evitando os riscos de contágio.
Lembrando que os sofrimentos emocionais podem ser desencadeados por
gatilhos de ansiedade e nervosismos alimentados em nossa mente. Busque
meios de amenizar esses gatilhos, selecionando os conteúdos
informativos, evitando alimentar o desespero e realizando atividades
prazerosas que transmitam bem estar, sem violar as recomendações de
proteção que devemos seguir de forma cautelosa. Não ceda ao pavor mental
e aprenda a controlar suas emoções e seus sentimentos.
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