Ana Sátila se divide entre K1 e C1 em treinamentos para Tóquio 2020

Canoísta, natural de Iturama (MG) está mais madura em seu terceiro ciclo olímpico e investe na preparação física e mental para superar frustração na Rio 2016

Ana Sátila se divide entre K1 e C1 em treinamentos para Tóquio 2020
Ana Sátila | Washington Alves/COB
“Em Londres, tudo era novidade e estava deslumbrada. No Rio, cheguei preparada, já tinha uma cabeça de adulta e já sabia o que iria enfrentar. Infelizmente, não consegui colocar tudo que eu sabia naquela competição. Para Tóquio, vou usar tudo que aprendi durante cada ano da minha carreira. Quero e vou chegar preparada fisicamente e mentalmente. Vou dar o meu melhor para conquistar o resultado que espero”.
Uma das provas da dedicação de Ana, que nasceu em Iturama (MG), mas que conheceu e se apaixonou pelo esporte em Primavera do Leste (MT), após receber um convite durante um treino de natação do pai, Claudio Vargas, pode ser vista por meio de suas principais conquistas, listadas em ordem cronológica: ouro no C1 e prata no K1 no Jogos Pan-americanos Toronto 2015; bronze no C1 e prata no K1 Extremo no Mundial de Pau (França), em 2017, as primeiras do país em mundiais da modalidade; ouro no K1 Extremo no Mundial do Rio, em 2018; ouro no C1 e no K1 Extremo no Pan de Lima.
“Treino só as categorias olímpicas. Sempre gostei mais do K1, mas depois de alcançar um nível melhor na C1, passei a curtir um pouquinho mais. Amo as duas categorias. Já o K1 extremo, até hoje, só entrei no barco para competir, por não ser uma prova olímpica. Mas, se alguma coisa mudar, e a categoria se tornar olímpica, com certeza me dedicarei também.”
Apesar de tantas conquistas, o primeiro grande título é o que não sai da memória de Ana Sátila: o Mundial Júnior de Penrith (Austrália), no K1, em 2014. “Tinha o apoio e a torcida de toda a equipe do Brasil, foi uma comemoração muito legal. Os meninos pularam na água, meu técnico estava muito feliz, era o início de uma geração muito especial de atletas brasileiros. Foi o momento mais especial da minha carreira esportiva”.
RIO 2016
Para chegar nesse título, o trabalho teve início três anos antes, em 2011, quando Ana Sátila começou a treinar com Ettore Ivaldi, treinador italiano contratado pela Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) para comandar a modalidade. Ele se tornaria um “segundo pai” para a jovem, se fazendo presente nos melhores momentos e também nos mais duros de sua carreira, como nos Jogos Rio 2016, quando Ana desabou ao sofrer uma penalidade na prova e ser eliminada ainda na primeira fase do K1, na 17ª posição.
“Pensei em desistir de tudo após a minha desqualificação no Rio. Não queria mais saber do esporte. Não pela derrota em si, mas porque sabia que sem o resultado meu técnico iria embora. Não queria continuar sem ele e foi quando pensei em fazer faculdade de medicina e me tornar pediatra, outro sonho que tinha. Mas com o apoio do Ettore, consegui colocar a cabeça no lugar. Ainda tínhamos duas competições juntos e ele me fez ver que, mesmo longe, estaria sempre por perto”, relembra a canoísta, que ainda voltou a cogitar uma mudança de rumo profissional na temporada seguinte:
“Pensei que tivesse me recuperado da perda do Ettore, mas foi mais difícil do que imaginava. Não conseguia treinar com ninguém. Recebi propostas para representar a Itália e ficar ao seu lado, mas não me via representando outro país. Tive também um grande apoio do COB, que me deu melhores oportunidades para treinar, lutar pelo meu sonho e, aos poucos, me adaptar à ausência do meu técnico”.
Com uma história inspiradora, especialmente para as meninas que estão iniciando a prática esportiva, Ana Sátila, vencedora do Premio Brasil Olimpico de melhor atleta da modalidade Canoagem Slalom de 2019, espera seguir escrevendo novos capítulos dessa biografia, e um deles certamente abordará as experiências vividas do outro lado do mundo.
“Fico muito animada quando penso nos Jogos de Tóquio. Mal posso esperar para estar no Japão novamente e ter nova oportunidade de conquistar o meu sonho. Já me apaixonei completamente por Tóquio: comida, pessoas e ambiente. Quero muito voltar e representar o Brasil em uma competição tão importante”.
Ana começou a treinar firme para ganhar um sorvete italiano “que ela amava de paixão” do pai, quando se saía bem no esporte, e por ali ficou porque queria ver a torcida “enlouquecida”, especialmente dos pais e do técnico, comemorando uma vitória. Se depender de sua vontade e de seu esforço, tudo isso será revivido no Japão.
“O esporte me ensinou a trabalhar muito duro por um sonho e me tornou quem eu sou hoje”, concluiu Ana Sátila.

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