*José Renato Nalini
Como o Natal custava a chegar! O ano
parecia interminável. Meses longos, rotina maçante. Quando dezembro se
avizinhava, começavam os preparativos. Era costume antigo em minha cidade, as
“visitas” do Menino Jesus. Uma imagem do bambino em sua manjedoura se hospedava
com a família por uma noite. As crianças da rua cantavam “O meu coração, é só
de Jesus! A minha alegria, é a Santa Cruz!”. O cortejo era uma alegre
procissão, de um lar para outro. Procurava-se receber condignamente o hóspede.
Ao final da reza, todos os partícipes recebiam uma guloseima. Era o incentivo à
participação nesse projeto que se desenvolvia durante todo o mês de dezembro.
As casas montavam presépios. Havia
aqueles caprichados, com luzes, monjolo a funcionar com água corrente. Muitas
figuras, algumas até exóticas, talvez inexistentes na Belém do ano zero. Os
maiores eram os das igrejas. Cada um procurava fazer o melhor, numa saudável
competição de estética religiosa.
A missa do galo era próxima à meia
noite. Só depois dela é que se abriam os presentes. Estes eram a retribuição do
Menino Jesus para os bem comportados. Não se falava tanto em Papai Noel. Tudo
era bem simples. Sem sofisticação, mas com espírito natalino que, aos poucos,
foi arrefecendo. Isso foi ocorrendo aos poucos. E aconteceu em várias épocas.
Quem já não leu o “mudou o Natal, ou mudei eu?”.
Época feliz em que os pais eram
vivos e os avós também. Natal é festa de família. Se tudo mudou, a família
também. Vínculos se desfazem e, com eles, afeições se abalam. Não existe clima
para um companheirismo que durou muitos anos e, de repente, deixa de existir
porque um casamento naufragou.
Natal é um acontecimento gerador de
sensações ambíguas. Nostalgia pelos tempos idos. Há mais seres queridos do
outro lado. A coleção de perdas cresce aceleradamente. Viver muito é
acrescentar defecções à relação de tristezas. Procura-se disfarçar quando há
crianças e estas merecem boas recordações infantis. Todavia, mesmo estas já não
são como as de antigamente. Querem coisas sofisticadas, tudo vem de forma fácil
e, portanto, não se valoriza o smartphone de última geração, como ontem se
verificava o entusiasmo por um brinquedo artesanal.
Temos coragem de lembrar aos mais
próximos o verdadeiro sentido do Natal? A data de celebração do nascimento de uma
criança que veio para salvar a Humanidade e que se ofereceu como holocausto em
favor da aliança com o Criador ofendido.
Data cristã, que o mercado procurou
paganizar. O aniversariante é esquecido e em seu lugar se cultua o consumo, a
gula, a luxúria.
Quem dispõe de paciência para
lembrar as crianças, principalmente estas, de que Natal não é só o dia dos
presentes, mas é uma comemoração do natalício de uma criança pobre, que trouxe
a mensagem salvífica e que abriu perspectivas novas para os desalentados, os
descoroçoados e perdidos nesta peregrinação.
Não é fácil competir com a mídia.
Mas há quem se propõe a isso. Vale a pena recuperar algo dos Natais antigos,
tão mais puros, ingênuos, simples e felizes.
Mas Natal é Natal, seja ontem, seja
hoje, ou amanhã! Feliz Natal do Menino Jesus para todos!
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