Lucas Musetti Perazolli
Jesualdo Ferreira se despediu do Canal 11, de
Portugal, na noite desta sexta-feira. O técnico deixa de ser
comentarista de televisão para assumir o Santos a partir de 2020.
O treinador de 73 anos lembrou de quando viu Pelé pessoalmente e destacou o DNA do Peixe.
"A primeira grande referência que tive do futebol
brasileiro foi o Santos. Em 1962, eu ainda era novo… lembro que o Santos
enfrentou o Benfica. Nunca mais esqueço daquele time do Santos, com
Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Acompanhei Benfica x Santos na
Luz. Felizmente pude acompanhar uma coisa que nunca tinha visto na
minha vida, que era um senhor chamado Edson Arantes do Nascimento, o
Pelé. Logo ali, o Santos tornou-se o meu clube no Brasil", disse
Jesualdo.
"A segurança que as pessoas (do Santos) têm de que
aquilo (projeto) é verdade, têm a crença de que aquilo é verdade. Vou
com a ideia do caminho que tenho a seguir. É impressionante como o
Santos tem o mesmo estádio há 60 anos, pequeno e com cerca de 20 mil
pessoas. Ali jogou o Pelé. Estou falando de identidade. Identidade não
pode ser alterada porque momentaneamente o 'negócio' tomou conta de
tudo", completou.
Jesualdo Ferreira também falou durante boa parte da
entrevista sobre tática. Ele assistiu a jogos do Alvinegro sob o comando
de Jorge Sampaoli e prioriza a utilização do 4-3-3, com adaptações no
ataque.
"4-3-3 me garante conseguir passar para outros sistemas
com mais segurança. É um sistema que controla melhor os espaços. Para
colocar o meu 4-3-3, preciso ter jogadores que consigam interpretar o
que eu quero. O 4-3-3 torna-se menos forte quando se tem dois laterais
fortes ofensivamente. Se não tenho dois meias que sejam fortes
verticalmente, também. Sem um 5 (primeiro volante) de alta qualidade,
também é difícil. Se efetivamente os três da frente forem dois extremos
(pontas) puros e um atacante… Não é o ideal. Por que não é o ideal? Para
mim, os três da frente precisam ser atacantes, que saibam jogar fora e
também dentro da área. Exemplos: Lisandro López e Ricardo Quaresma",
analisou.
"Se chegar ao Santos e não encontrar os volantes/meias
que gosto… Bom, aí você me pergunta: vai abdicar do 4-3-3? Não sei.
Tenho que ver quais são as outras soluções, sem perder aquilo que quero:
procurar sempre o gol. Entre ter posse de bola e chegar rápido ao
ataque, prefiro a segunda opção. Quero a primeira opção? Quero! Mas
quero isso sem perder a capacidade de chegar rápido ao gol. Do que vi do
Santos do Sampaoli, o time tem três atacantes (Marinho, Soteldo e
Eduardo Sasha) muito rápidos, fortes e com mobilidade. Logo, vai ser
mais fácil para que as minhas ideias entrem rapidamente", emendou.
O português comentou sobre a dificuldade com o
calendário brasileiro. O Santos estreará no Campeonato Paulista dia 23,
contra o Red Bull Bragantino, na Vila Belmiro.
"Vou começar a temporada no dia 10 e jogar já no dia 22
(23). A partir daí, serão jogos de quatro em quatro dias (no Paulistão).
Depois tem a Libertadores e o Brasileirão. Como vai ser o processo de
preparação do meu time? Primeiro vou fazer uma série de análises rápidas
dos últimos jogos. Assim, vou mostrar aos meus jogadores o que eles já
fizeram, o que está errado e o que está certo. Vou privilegiar o
"certo", que é o mais importante. No treino não vou me preocupar muito
com aquela fase de cargas altas, de força física… Vou fazer treinos de
jogo. Vou potencializar ainda mais aquilo que o time já sabe fazer. Não
quero perder tempo com a afinação física", disse Jesualdo.
A falta de tempo entre jogos e a primeira experiência no
Brasil fazem com que Jesualdo Ferreira veja seu provável último
trabalho como o mais difícil da carreira.
"O Santos é o último maior desafio da minha carreira.
Dizer que os outros, como o Porto, não foram tão fortes? Não seria
honesto dizer isso. Mais difícil? No momento é, porque antes conhecia e
dominava muito mais as questões do que agora. Dominava mais o contexto",
concluiu.
Jesualdo será apresentado oficialmente como técnico do
Santos no dia 6 de janeiro. Já há três outros membros da comissão
técnica definidos: os auxiliares Rui Águas, Antonio Oliveira e Pedro
Bouças. Um preparador físico ainda será escolhido.
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