Pesquisas da UFSCar em materiais para altas temperaturas são premiadas

Trabalhos visam a conservação de energia em processos industriais, com impactos econômicos e ambientais
Duas pesquisas desenvolvidas no Departamento de Engenharia de Materiais (DEMa) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foram reconhecidas como melhores trabalhos apresentados no XLI Congresso da Associação Latino-Americana de Fabricantes de Materiais Refratários (Alafar), que aconteceu entre 30 de setembro e 3 de outubro em Medellín, na Colômbia. Os trabalhos estão vinculados ao Grupo de Engenharia de Microestrutura de Materiais (GEMM), coordenado pelos docentes do DEMa Victor Carlos Pandolfelli e José de Anchieta Rodrigues. As pesquisas estão relacionadas, de modos distintos, a um dos principais desafios da atualidade, que tem especial relevância nos processos industriais utilizando altas temperaturas: a conservação de energia. Dentre esses usuários estão a siderurgia, a metalurgia, petroquímica, fabricação de vidros, cimento, junto a vários outros.
O trabalho intitulado "Eco design of insulating ceramic foams for high temperature apllication" (Eco design de espumas cerâmicas isolantes para aplicação de alta temperatura) foi premiado como melhor trabalho. Os autores são Vânia Regina Salvini, docente da Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Sertãozinho que desenvolve pesquisas no DEMa; José de Anchieta Rodrigues, docente aposentado do DEMa; Tiago dos Santos Junior, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPGCEM) da UFSCar; José Roberto Binotto, servidor técnico-administrativo no DEMa; Pedro Ivo B. G. B. Pellissari, doutorando no PPGCEM; e Pandolfelli. "Uma das formas de conservação de energia é evitar o desperdício por meio do isolamento térmico. Um estudo recente aponta que entre 40 e 60% da energia em processos industriais em alta temperatura é dissipada de outras formas que não para o fim desejado, ou seja, é desperdiçada. Isto, na maior parte das vezes, é consequência do isolamento térmico não eficiente. Considerando essa demanda, o nosso estudo busca justamente produzir cerâmicas que suportem as altas temperaturas, mantendo a integridade física, morfológica e química do material e sua capacidade de isolamento térmico", relata Pandolfelli. O pesquisador também comenta o conceito de "eco design", que, neste caso, diz respeito à busca de novas composições refratárias (aquelas que suportam temperaturas superiores a 1.400ºC) que não representem riscos ao ambiente e aos seres humanos, já que, muitas vezes, por exemplo, as composições mais convencionais têm elementos que podem ser carcinogênicos, segundo Pandolfelli.
O trabalho reconhecido como segundo melhor do Congresso tem o título "High-alumina refractory castables containing CAC or CaCO3 as binders" (Concretos refratários de alta alumina contendo CAC ou CaCO3 como ligantes) e autoria de Ana Paula da Luz, pesquisadora do GEMM; Leonardo Barbosa Consonni, mestrando no PPGCEM; André Henrique Guimarães Gabriel, engenheiro de materiais formado na UFSCar; Carlos Pagliosa, pesquisador da RHI-Magnesita, empresa líder mundial na área de refratários; Christos Aneziris, professor na universidade alemã Technische Universität Bergakademie Freiberg; e Pandolfelli. Neste caso, o pesquisador explica que a economia de energia se dá pela possibilidade de processamento de materiais cerâmicos a  temperaturas mais baixas. "Em geral, quanto mais refratário é o material, maior a temperatura necessária para obtê-lo, o que acarreta gasto de energia. Neste trabalho, nós buscamos o desenvolvimento de aditivos para diminuir a temperatura de processamento de concretos refratários para revestimento de fornos industriais, sem prejudicar o seu desempenho na temperatura de uso", conta Pandolfelli.
O docente da UFSCar comenta como, nos debates sobre a questão energética, muitas vezes a dimensão da conservação é negligenciada. "Nós podemos olhar para a geração, o transporte, o armazenamento, a rede de distribuição e a conservação, mas, comumente, se esquece quanta energia é jogada fora pelo mal uso", pondera. Em relação aos prêmios, Pandolfelli registra que foram recebidos com alegria e que refletem um trabalho de pesquisa consolidado. "Esta foi a segunda vez consecutiva em que recebemos os dois primeiros prêmios no evento, com as mesmas primeiras autoras. Já são 38 anos trabalhando na área, período ao longo do qual construímos parcerias muito bem estabelecidas com a indústria e com universidades estrangeiras reconhecidas internacionalmente", destaca.
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    Pandolfelli (esq.) recebe um dos prêmios no Congresso (Foto: Divulgação)




  

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