Consumismo e escassez: quais os limites?

Pedro Gonçalves Coelho é Acadêmico do Curso de Administração – Campus de Três Lagoas/MS.
Marçal Rogério Rizzo é Economista e Professor do Curso de Administração – Campus de Três Lagoas/M

Quando pensamos em escassez, imediatamente nosso subconsciente estabelece relações diretas com ausência de recursos, secas, miséria, falta de algo e tudo aquilo que nos remete a necessidades. Feitas essas relações, é comum pensarmos em até quando o mundo resistirá ao nosso consumismo desenfreado, e também se estaremos vivos para presenciar o momento em que os paradigmas da sociedade consumista se alterarão.

Sob a luz desses pensamentos, devemos nos lembrar da máxima econômica de que, ao passo em que os recursos estão disponíveis de forma limitada, nossas necessidades serão, por sua vez, sempre ilimitadas.

Vivemos atualmente em uma sociedade extremamente estimulada a ser consumista, que já não olha mais para o próprio futuro. A única preocupação é momentânea, buscando atender o desejo de comprar. Estudamos, trabalhamos e economizamos dinheiro, tudo isso para alimentar a máquina gigantesca do capitalismo, sem nunca vislumbrarmos o final dessa necessidade desenfreada de, cada vez mais, ter aquilo que nunca realmente nos foi necessário.

Deparamos então com um dilema: quais são as nossas verdadeiras necessidades? Uma vez que, de forma exagerada, buscamos apenas aquilo que nos traz satisfação momentânea, esquecemos de pensar nas questões que realmente importam, ou seja, naquilo que de fato é imprescindível para nossa sobrevivência e, com isso, abandonamos os limites morais no que diz respeito ao consumo consciente e à preservação dos escassos recursos de nosso planeta.

Poderá até parecer exagero, mas, para fomentarmos ainda mais esse pensamento a respeito de nossos nocivos hábitos de consumo, podemos fazer uma comparação direta com o comportamento das primeiras comunidades sedentárias. Há cerca de dez mil anos, esses grupos se fixaram em um lugar de forma definitiva a partir do momento em que dominaram técnicas como a agricultura e a pecuária. Nesse primeiro modelo de sociedade, as necessidades ainda estavam livres da influência do consumismo: tudo o que se fazia tinha como objetivo garantir a sobrevivência do grupo, sem preocupações com ostentação, luxo ou acumulação.

Podemos então concluir que já estivemos soltos das amarras desse sistema que nos leva cada vez mais a consumir. Com o passar dos tempos, fomos aprimorando nossas técnicas, criamos conceitos de propriedade e mergulhamos de cabeça na era da indústria – e é a partir desse momento que esquecemos nossos limites morais.

De maneira alguma devemos caracterizar as revoluções industriais como eventos malignos na história da humanidade, mas devemos ponderar alguns fatores. Com o advento da produção em massa, houve a intensificação da ideia de riqueza: ter mais significava ser mais, e a soberba humana encontrou espaço na busca desenfreada de posses. Já não nos importava como; deveríamos consumir a todo custo.

Tendo em vista o apresentado até aqui, podemos compreender que as questões que giram em torno de consumismo são exclusivamente culturais e impostas, ou seja, estão sendo enraizadas na nossa maneira de viver. E, se, de alguma forma, desejarmos permanecer por mais tempo usufruindo dos recursos de nosso planeta, é necessário que voltemos nossa preocupação para a base: desde cedo devemos educar nossos jovens quanto ao conceito de que o poder de compra não está ligado a quem somos, mas a nossas ações para preservar o que nos resta.
 

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