Quem manda

 Heitor Rodrigues Freire é advogado, empresário, escritor e articulista
em Campo Grande (MS) 
 
Esta época de eleições é oportuna para conversar sobre quem manda no país. De acordo com a Constituição Federal, todo poder emana do povo, que o exerce através de representantes eleitos. No texto constitucional, os Poderes da União são: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Mas a realidade brasileira está muito longe das velhas teorias sobre Democracia e República, que ainda acalentam os juristas e cientistas políticos. O que vemos hoje no país é uma contradição abissal entre a teoria e a prática.
Os desejos do povo não se concretizam. Os Poderes da União já não são independentes e autônomos nem nas aparências. Todos se submetem ao poder que domina tudo: o poder econômico. Os chefes e membros dos Três Poderes, muitas vezes, são apenas instrumentos dos verdadeiros donos do poder. Não é por acaso que nos esquemas de dominação, privilégio e apropriação sempre estejam vinculados grandes empresários, grandes empresas, grandes corporações, grandes conglomerados.
O jornal francês "Le Monde Diplomatique" descreve a crise no Brasil com muito conhecimento da realidade, analisando as forças que governam a política no país. De início, aponta que o foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade brasileira é o complexo financeiro-empresarial com atuação local e global, exercendo um poder invisível sob a fantasia de democracia.
Os grandes meios de comunicação não são órgãos de imprensa, ou seja, instituições autônomas com objetivo na notícia. Eles são complexos econômicos que também compõem o sistema financeiro-empresarial. Portanto, participam do exercício invisível do poder, utilizando seus recursos na formação da opinião pública.
Os verdadeiros donos do poder não apóiam partidos ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes estorva. E isso muda de acordo com a conjuntura. Sua ideologia única é a supremacia do mercado e do lucro.
Os detentores do poder econômico podem apostar em Lula, Dilma, Temer, Aécio ou um aventureiro qualquer – assim como em qualquer partido –, podendo vir a destruir depois de acordo com sua conveniência. A intenção deles é tornar as leis e a administração favoráveis ao seu objetivo de maximização dos lucros.
Assim, na conjuntura atual, eles querem reformas na Previdência e nas Leis Trabalhistas, congelamento do orçamento primário do governo, cortes de gastos sociais, privatizações e manutenção de tributos leves para os mais ricos. O que não querem é que o povo brasileiro decida sobre o destino de seu país.
Mas há um provérbio português que diz: "Esperteza, quando é muita, vira bicho e come o dono". É o que vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Não será a primeira vez que os espertos se dão mal. Hoje, o Brasil está mergulhado num caos político, econômico, moral e social. Mas, como os escritos antigos garantem, do caos nasce a luz. O povo brasileiro deve manter sua esperança brilhando intensamente.

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