Vocacionados a viver com dignidade

 
Jean Ferreira
Estudante de Filosofia e seminarista da Diocese de Jales
 
Cada ser humano tem uma missão neste mundo, devendo, portanto, entender sua vocação. Por isso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em sua Assembleia Geral de 1981, instituiu agosto como Mês Vocacional, para todos os anos, especialmente nesse mês, conscientizar cada homem e mulher, por meio de suas comunidades, sobre sua responsabilidade na descoberta de sua vocação, tornando-se sujeito de seu destino.
A palavra vocação, advinda do Latim, significa "chamamento", ou seja, convite feito a alguém. Sendo a resposta, positiva ou negativa, livre, vocação não é predestinação, senão realização de um itinerário de vida coerente com o que cada um se propõe a ser. Pensando assim, a forma mais evidente de discernir a vocação é autoconhecer-se, isto é, buscar em si aquilo que o torna sujeito no caminho de realização pessoal e coletiva.
A cultura de nossos dias favorece, pelas redes sociais, o conhecimento do mundo, mas não ajuda as pessoas a conhecerem a si mesmas. Por isso, muitas pessoas se dedicam ao que não produz uma real satisfação pessoal. Muitos jovens, por exemplo, se inserem no mercado de trabalho visando altos ganhos como critério de realização pessoal sem se perguntarem se isso corresponde aos seus anseios de viver com dignidade.
A sociedade brasileira vive um momento desafiador. Nossa pátria amada "geme em dores de parto" (cf. Rm 8,22). O que ela está gerando? Filhos que, igualmente, sofrem sem direitos sociais básicos, que lhes garantam vida digna. Constantes mudanças na legislação, sobretudo no campo do trabalho e previdenciário, promovem desmotivação pessoal e afastam dos brasileiros a esperança de um futuro feliz.
A sociedade brasileira necessita, então, reconhecer o seu valor e entender a sua vocação. Somos um povo gigante governado por gente mesquinha que rouba o direito de se viver com dignidade. Suas decisões, em lugar de favorecerem a vida, estão gerando miséria, aumentando a desigualdade social e aniquilando sonhos.
O processo eleitoral deste ano, que se intensificará a partir de agosto, é oportuno para nos manifestarmos a esse respeito. Que cada um de nós procure ser consciente e responsável em suas escolhas. Como filhos deste solo fértil, queremos nossa terra livre de violência e injustiças, tal qual os indígenas, antes da chegada dos portugueses, inspirados em sua mitologia da "Terra Sem Males", a desejavam que fosse.
Que o Deus da vida nos inspire a buscar sempre mais a vocação de filhos e filhas que se preocupam uns com os outros e lutam juntos por um mundo mais fraterno e promotor de vida em abundância. Que o sim generoso que muitos personagens históricos, notadamente bíblicos, a exemplo de Maria, deram a Deus, nos inspire a tomar consciência de que somos, igualmente, vocacionados a viver com dignidade.
 

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