Tendências da roça

Nadine Gualberto Agra, Mestre em Economia Rural e Regional na Universidade Federal da Paraíba e Robério Ferreira dos Santos, Doutor em Economia, professor da Universidade Federal da Paraíba e pesquisador da EMBRAPA.

 
Até a década de 1950, o aumento da produção agrícola no Brasil se dava através da expansão da área cultivada. A partir da década de 1960, foram introduzidas novas tecnologias – máquinas e implementos agrícolas, corretivos e adubos químicos, pesticidas e herbicidas – que ganharam importância na prosperidade da agricultura. Essa modernização – conhecida por Revolução Verde – intensificou-se a partir da década de 1970.

Além da mudança tecnológica, surgiram os complexos industriais e comerciais especializados na produção e na venda dos produtos destinados à agricultura. De outro lado, surgiram os complexos agroindustriais com a finalidade de processar a produção gerada pela agricultura. Assim, vê-se que a Revolução Verde foi um processo de desenvolvimento capitalista que atrelou a agricultura aos interesses dos complexos industriais e comerciais.

A modernização deu forte impulso à transformação dos latifúndios, privilegiando os grandes proprietários rurais – maiores compradores de insumos e maiores produtores de monoculturas –, favorecendo mais ainda os complexos industriais e comerciais.

Pode-se afirmar que a Revolução Verde foi um processo de desenvolvimento parcial e excludente, pois não trouxe benefícios gerais. Não impactou positivamente – em termos tecnológicos, econômicos e sociais – as propriedades rurais menores, as dedicadas à policultura alimentar, as menos capitalizadas, as localizadas em regiões mais difíceis.

Em antigas e novas regiões agrícolas, as tecnologias introduzidas provocaram devastação ambiental, redução da biodiversidade, degradação do solo, contaminação de recursos hídricos. Milhões de pequenos produtores e trabalhadores rurais foram expulsos do campo para as cidades, formando o movimento migratório chamado Êxodo Rural.

A partir da década de 1990, instalou-se a padronização da agricultura brasileira – com mais intensidade nos segmentos de grãos e carnes –, seguindo os modelos produtivos internacionais. Milho, soja, trigo, frangos e suínos – por exemplos – hoje são produzidos em todo o mundo dentro do mesmo padrão. Isto impõe aos consumidores a falta de escolhas, a possibilidade de comprarem apenas o que é produzido nos padrões estabelecidos.

Chega-se ao reconhecimento de que este modelo de modernização da agricultura não atendeu às necessidades da grande massa de proprietários, trabalhadores, técnicos rurais e consumidores. Uma questão se levantada: há uma saída? É possível obter um desenvolvimento sustentável, geral e harmônico com as necessidades e aspirações humanas?

A resposta é sim. Hoje surgem, em todo o mundo, novos personagens ligados à produção e ao consumo, chamados "produtores verdes" e "consumidores saúde". Eles rejeitam as tecnologias, os produtos e as lógicas oriundas da Revolução Verde. Eles optam pela sustentabilidade, por técnicas ecológicas, por produtos saudáveis, por comércio justo. Eles visam melhores condições de vida – saneamento básico, água potável, energia limpa, saúde, ensino, lazer – a toda a população do planeta.

As novas vertentes – agricultura familiar, agricultura local, agricultura orgânica, agroecologia, agrofloresta, permacultura e outras –não são só alternativas. São propostas categóricas e viáveis em favor do desenvolvimento amplo e durável.

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