Acordos chineses


Lia Baker Valls Pereira é pesquisadora de economia aplicada na FGV Fundação Getúlio Vargas e professora de ciências econômicas na UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

O acompanhamento da política econômica, comercial e externa da China é relevante para o Brasil. A China é hoje, desde 2009, o principal destino das exportações brasileiras. Neste ano (janeiro a agosto de 2017), as exportações brasileiras registraram os percentuais: para a China (24%), para a América Latina e o Caribe (20%), para a União Europeia (16%) e para os Estados Unidos (12%).

No entanto, nossa pauta de produtos exportados para a China não se diversificou. Apenas três produtos – soja em grão, minério de ferro e petróleo – representaram 83% das vendas brasileiras para aquele país (janeiro a agosto de 2017).

Além do comércio, a China tem aumentado seus investimentos no Brasil. Recentemente, a estatal chinesa State Power Investment Corporation arrematou a Usina Hidrelétrica de São Simão (entre Goiás e Minas Gerais), a mais cara no leilão, por 7,18 milhões de dólares. E a estatal chinesa State Grid Corporation anunciou o investimento de 2,4 bilhões de dólares na construção de linha de transmissão de energia a partir da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (no Estado do Pará).

A expansão externa das empresas chinesas é conduzida com a ampliação de acordos comerciais. Esses acordos vão além do simples comércio de mercadorias. Eles abrangem relacionamentos com fornecedores, fabricantes e distribuidores em geral, assim como convenções com países que tenham recursos naturais de interesse da China.

Após a eleição do Presidente Donald Trump, os Estados Unidos se retiraram de um importante acordo de livre comércio – a Parceria Transpacífica –, estabelecido por 12 países banhados pelo Oceano Pacífico. A China, que não faz parte desse acordo, se animou em avançar suas negociações com outro acordo – a Parceria Regional Econômica Abrangente –, que reúne países asiáticos e pode consolidar a liderança chinesa na região.

No entanto, nem tudo são flores na parceria asiática. Japão e Índia são cautelosos. O Japão tem tensões políticas com a China e deseja ser o mais forte nas novas tecnologias (como a robótica), área em que a China tem se destacado. Além disso, o Japão pretende ser importante investidor na região asiática. Por exemplo, vai emprestar 19 bilhões de dólares e fornecer tecnologia para a Índia construir uma ferrovia de alta velocidade (trem-bala). Por sua vez, a Índia quer diminuir sua dependência dos investimentos chineses.

Diante desse quadro, o governo chinês tem dado atenção para outras propostas de compromissos de longo prazo, em termos políticos e econômicos, onde quer que existam oportunidades de comércio e investimentos.

Qual a relevância disso tudo para o Brasil? A China vai preferencialmente garantir a sua segurança energética e alimentar. Os acordos garantem à China acesso aos mercados, bem como a criação de normas e padrões de relacionamentos diferentes daqueles adotados por outros países, especialmente os Estados Unidos. Tais acordos também representam um fortalecimento político e econômico da China no cenário mundial.

O Brasil está na hora de definir qual estratégia será ser adotada diante do crescimento da China na economia brasileira. Os chineses constroem suas agendas com horizontes de médio e longo prazo. Embora o Brasil passe por momentos de incertezas políticas e econômicas, o governo brasileiro tem que iniciar o diálogo com os diversos setores da sociedade para que a presença chinesa aqui seja um fator de geração de desenvolvimento ao país. E nenhum brasileiro deve ficar alheio aos acontecimentos.

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