Campo e cidade

Paulo da Cunha Lana (Graduado em Ciências Biológicas, Mestre em Oceanografia Biológica e Doutor em Oceanografia)

Eugênio Libreloto Stefanelo (Graduado em Engenharia Agronômica, Mestre em Economia Rural e Doutor em Engenharia de Produção)



Aproximadamente 25% dos continentes terrestres são ocupados por sistemas agropecuários, estabelecendo as zonas rurais. Os sistemas agropecuários estão fixados nas regiões mais favoráveis para a produção de alimentos, fibras e energia. Por outro lado, os sistemas de cidades, criados para abrigar a população em áreas de interesse coletivo, estabelecem as zonas urbanas.

O crescimento populacional – de 1 bilhão em 1800 para 6 bilhões em 2000 –, tem trazido fortes pressões sobre os sistemas agropecuários e de cidades, além de por em risco os sistemas naturais. As zonas rurais e urbanas foram tradicionalmente vistas como espaços opostos, contrastantes, conflitantes. Na melhor das hipóteses, como complementares. Mas temos que superar essa visão segmentada do campo e da cidade.

De fato, a origem deste afastamento tem causas tradicionais. O mundo rural tem uma função principal (a produção de alimentos), uma atividade dominante (a agropecuária), um grupo social característico (a família camponesa) e um tipo de paisagem (os cultivos). Já o mundo urbano é marcado por diferentes funções, atividades, grupos sociais e paisagens, em disparidade com tudo o que é rural.

Essa percepção, de que o campo e a cidade são opostos ou complementares, é legítima? Ela é vantajosa? As respostas são: não e não. Para começar, o campo e a cidade são sistemas naturais submetidos à presença humana e modificados pelo homem através de intervenções materiais. As zonas rurais e urbanas são transformações feitas pela espécie humana e para a espécie humana.

Além disso, os sistemas rurais e urbanos são ecossistemas abertos que trocam matérias e energias entre si, mantendo relações de interdependência. Basta lembrar que o clima (temperaturas, ventos, chuvas) e a poluição ambiental (no ar, na terra, nas águas) não respeitam limites rurais e urbanos. E, mais ainda, as questões relativas à sustentabilidade envolvem igualmente o campo e a cidade.

A modernidade vem incluindo o espaço rural, deixando de ser uma exclusividade urbana. Um bom exemplo é o turismo – com muitas formas de lazer –, que hoje se estende sem contradições às zonas rurais, às zonas urbanas e aos ambientes naturais preservados (matas, montanhas, rios, lagos, mares). Hoje, os mesmos conceitos civilizados são aplicados tanto no campo e como na cidade.

Muitas práticas são ideais para o campo e a cidade: diversificação alimentar, preservação ambiental, controle biológico de insetos, uso racional da água, uso de energia renovável, reciclagem do lixo sólido, aproveitamento do lixo orgânico. Muitas atividades são estimuladas, indistintamente, no meio rural e no meio urbano, como a produção de alimentos orgânicos, indústrias familiares, prestadoras de serviços, turismo, eventos culturais. A visão integrada do campo e da cidade facilita o planejamento dos municípios na busca do desenvolvimento social, econômico e ambiental. (Fonte: Coleção Agrinho, Sistema FAEP Federação da Agricultura do Estado do Paraná)



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