Boi voador em cidade francesa

 Luis Dufaur (*)
 
 
 
 

O boi chamado Caïet salvou a concórdia geral
 
Aproxima-se a data de 13 e 14 de julho em que os habitantes de Saint-Ambroix (Santo Ambrósio), na França, tentam fazer um boi voar na festa do “Volo Biòu” O problema começou há séculos e foi que pelo excesso da colheita da uva, não havia mais um recipiente livre na cidade para guardar o vinho. O que fazer?
A desavença tomou conta dos habitantes cuja única renda era o fruto da terra. “Se nós não fazemos algo, vamos perder tudo”, disse um deles.  “É culpa de nosso governante”, disse um outro, apontando para a casa do prefeito, chamado Roustan. Formaram-se grupos de descontentes liderados por um morador de rua cujo apelido era “Trinco-Puncho”. E a revolta começou a crescer em toda a cidade.

O prefeito vestiu-se de gala e anunciou uma festa
 
 “Eu tenho que achar algo”, pensava o prefeito em face do motim. Sua mulher teve uma ideia. Então o prefeito pegou suas mais belas vestes, foi até a praça principal cheia de descontentes, e disse: “Meus amigos, nós vamos organizar uma imensa festa”.
 “Esse é bem você! Quem virá à tua festa?”, berrou um peão corpulento. “Sim, Roberto falou certo, já tem festa em todas as cidades”, vociferou Joana. “Por que haveriam de vir as pessoas?”, gritou Mimila.
Nessa hora, vendo um rebanho de gado atravessar a praça, uma ideia louca assomou no espírito do prefeito. Ele tirou do gado um boi chamado Caïet e disse com toda segurança: “No próximo domingo haverá festa na nossa cidade, e o boi Caïet voará. E eu vos dou minha palavra de prefeito: todo o nosso vinho vender-se-á!”
Saint-Ambroix: a produção demasiada de vinho inspirou a curiosa decisão

A surpresa foi geral. Todo mundo ficou mudo diante de semelhante afirmação. Mas o prefeito era sério demais para mentir. No dia anunciado, milhares de curiosos acorreram dos quatro cantos. Fazia tanto calor que o vinho saía em cascata das mãos dos habitantes de Santo Ambrósio, todos eles transformados em taverneiros.
 
 
Por fim, após uma demorada preparação, o boi Caïet foi levado em cortejo, ornado com magníficas asas e acompanhado por toda a população. Tendo chegado ao topo do morro, nosso bom boi foi jogado no ar sob aplausos e aclamações. Mas, ele se precipitou no vazio e se espatifou, deixando seus restos um pouco por toda parte!
Mas do vinho não ficou sequer uma gota!
O prefeito tinha razão! E a festa do vinho se repete até hoje.
 
          ( * ) Luis Dufaur é escritor, jornalista, conferencista de política internacional e colaborador da ABIM

 

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