Evangelizar sem temer perseguições

Dom Reginaldo Andrietta,
Bispo Diocesano de Jales

Frente aos ataques que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em particular alguns bispos, têm sofrido por causa de seus posicionamentos em defesa do que é justo, hoje, neste país, demonstrando nossa solidariedade, principalmente com os que são vítimas de políticas públicas que lhes retiram direitos, são oportunos alguns esclarecimentos, de modo especial, a respeito da missão profética dos bispos.

O Concílio Vaticano II, na introdução da Constituição Pastoral Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) sobre a Igreja no Mundo Atual, diz que: "As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração".

Cristo, com seu coração misericordioso, "ao ver as multidões, sentiu grande compaixão, pois estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36). Inspirados nele, não somos indiferentes. Manifestamos nossa solidariedade para com o povo que Ele nos confiou, encorajando-o a continuar se organizando, agindo coletivamente e se manifestando de modo pacífico em defesa de seus direitos e de sua dignidade. Não o fazemos por ideologia, senão por amor pastoral.

No entanto, frequentemente, pessoas mal-intencionadas, revestidas até mesmo de religiosidade, dizem aos bispos o que podemos ou não dizer à sociedade, atacando-nos publicamente de maneira grosseira, associando-nos a um ou outro grupo político, pretendendo desacreditar o profetismo nosso e de toda a Igreja. Não faltam os que pretendem nos calar de modo violento, como fizeram com Dom Oscar Romero, Bispo de El Salvador, assassinado em 1980.

As vozes proféticas não agradam, como Jesus não agradou, sendo injustamente condenado. Nem por isso ele deixou de expressar compaixão por seus algozes. "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34). Assim clamou a Deus, demonstrando a força do amor divino no seu coração humano. Inspirados por este mesmo amor, dizemos como o apóstolo Paulo: "o amor de Cristo é que nos impulsiona" (2Cor 5,14). Por isso, não recuamos.

Paulo escreve a Timóteo, bispo de Éfeso, dizendo: "Proclame a Palavra, insista no tempo oportuno e inoportuno" (2Tm 4,2). Agrade ou desagrade, nossa missão de bispos é de educar, ensinar e orientar. Por isso nos manifestamos, sem nos considerar perfeitos e sem impor verdades, afinal Jesus é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6). A ele servimos, colocando-nos a serviço do bem comum, a partir dos mais necessitados, sinalizando o Reino de Deus por ele anunciado e inaugurado.

Evangelizar é nossa missão. Nós a realizamos em sintonia com Cristo que aplicou a si as palavras do profeta de Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me consagrou para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor (Lc 4,18-19)". Deus nos dê a graça de testemunhar essa missão libertadora de Cristo, sem temer perseguições.
 

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