A Páscoa no contexto de Guerras

Pe. Edvagner Tomaz da Cruz
Estudante de Mestrado em Teologia, em Roma



Estamos vivendo um tempo forte de fé e espiritualidade, a Páscoa do Senhor. Cristo Jesus assumiu nossos pecados e aceitou ser pregado na cruz para Salvar o mundo. O Pai o ressuscitou. Páscoa é sinônimo de alegria, de vitória, de vida, de libertação, de ressurreição, de passagem. Contudo, é adequado que se pergunte: O mundo está vivendo o tempo pascal, porém, como não perceber os tantos sinais de tristeza, conflitos e mortes?

Neste segundo domingo da Páscoa contemplamos o Ressuscitado no meio da comunidade que acolhe e perdoa. Este é também chamado "Domingo da Misericórdia", instituído por São João Paulo II e nos ajuda a relacionar Páscoa e Misericórdia.

O Ano de Misericórdia possibilitou revalorizar um dom precioso e sem limites, que é o Amor e a Misericórdia de Deus. Contemplarmos o coração de Deus sempre de portas abertas para receber e perdoar todo aquele que se reconhece pecador e com humildade desejar prosseguir o seu caminho em paz e promovendo-a. Afirmou Santo Agostinho: "tudo quanto eu sou vem da sua misericórdia". Pela experiência da misericórdia se experimenta a alegria em Deus.

Interessante agora pensarmos na tensão especial que o mundo vive, a guerra. Papa Francisco disse tempos atrás que o mundo já iniciou a Terceira Guerra Mundial, aos poucos manifestada em crimes, massacres e destruições em diversas partes do mundo como Síria, Gaza, Ucrânia e partes da África.

A guerra na Síria dura mais de seis anos. O território é estratégico e muitos são os envolvidos, ou melhor, os interessados. Vemos que não há um empenho em benefício daquele povo, mas sim uma exploração do local. Segundo dados da ONU, essa guerra já matou mais de 400 mil pessoas, e o êxodo provocado é o maior da história com a saída de 5 milhões de pessoas.

Há alguns dias vimos ataques, bombas, mortes e grandes potências se preparando para a guerra. Percebe-se dificuldades que tocam relações como por exemplo entre os EUA e a Rússia, também se capta a prontidão da Coréia do Norte para a guerra, enquanto a pobre Síria continua sendo destruída.

Constata-se uma "ordem internacional" segundo a qual os que detêm o poder dão as cartas. A guerra na Síria se estende por conta de apoios regionais e internacionais. O Bispo de Aleppo e Presidente da Cáritas da Síria, D. Antonie Aldo, afirmou "que são muitos os interesses por traz dessa guerra, acima de tudo os interesses econômicos que sufocam o direito das pessoas".

A Igreja sustenta sua voz profética contra todo tipo de violência e guerra. O mundo precisa parar os homens da guerra, como bem disse Papa Francisco. Celebrar a Páscoa é também perceber que a humanidade precisa deixar de lado suas misérias, como o poder utilizado de forma absurda e desumana. Na carta, Misericórdia e miséria o Papa Francisco toma um comentário que Santo Agostinho fez da cena de Jesus com a adúltera e diz: "não existe uma imagem tão bela para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: «Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia»". Enquanto não nos deixarmos convencer pela força do amor, do perdão e do diálogo não conseguiremos viver os frutos do amor do Pai Misericordioso.
 

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