Desvinculados

Reginaldo Villazón

Na última quinta-feira, dia 08, o deputado federal Roberto de Lucena (PV) protocolou no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília DF, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 295/2016) que altera o artigo 39 da Constituição Federal para determinar – pelo prazo de 5 (cinco) anos – o congelamento dos subsídios recebidos pelos detentores de mandatos eletivos nas três esferas de governo. Ou seja, para que todos os políticos eleitos no país fiquem sem ter reajuste dos seus ganhos por 5 (cinco) anos.




O deputado justificou. "Em virtude da grave crise econômica, cortar gastos na própria carne é um gesto de compromisso dos políticos com o Brasil". Ele coletou 177 assinaturas de apoio entre os parlamentares (6 a mais do que as 171 necessárias) e agora a PEC aguarda despacho do presidente da Câmara dos Deputados. A proposta, no mínimo, faz sentido, tem significado. Basta lembrar que os salários e benefícios dos 513 deputados federais e 81 senadores custam mais de R$ 1 bilhão por ano.

Se aprovada, a PEC vai mais longe. Congelará os ganhos dos políticos eleitos nos cargos legislativos e executivos em 26 estados, 5.570 municípios e 1 distrito federal. Os custos são altos, mas nós assistimos com frequência os políticos em condutas sem vínculos com a democracia, com o povo, com o país. Seus interesses partidários e pessoais se sobrepõem às necessidades daqueles que os elegeram. Esta situação é perigosa. Ela abre janelas para imaginação e reações arriscadas por parte da população.

No mês passado, numa tarde de quarta-feira, um grupo de manifestantes – autodenominado "Os Patriotas" – invadiu o plenário da Câmara dos Deputados para defender uma intervenção militar no país. Seis dias depois, na mesma Câmara dos Deputados, o Ministro da Defesa e os três Comandantes Militares estiveram em audiência pública. Coube ao General do Exército declarar "absolutamente lamentável a tese defendida por alguns grupos na sociedade de uma intervenção militar no Brasil".

Nas passeatas, as placas revelam indignação aos políticos. E a vitória de Donald Trump nos EUA com a frase "Faça a América grande novamente" fez os observadores se abalarem com o crescimento da "direita" em muitos países. Isto inclui o aumento da aprovação popular (detectada em pesquisas) do conservador e nacionalista deputado federal Jair Bolsonaro (61 anos, oficial militar da reserva, pai de cinco filhos e religioso) em sexto mandato legislativo. A apatia dos eleitores aos políticos usuais é crescente.

Fatos dessa ordem ocorrem nos municípios. Políticos locais desvinculados das suas comunidades perdem poder para políticos oportunistas e até para não políticos, que também não são capazes de liderar as comunidades para cuidar bem da cidade e do município. Eles não conseguem elevar a qualidade de vida dos moradores, atrair empreendimentos inovadores, aquecer o fluxo de bons visitantes. Mesmo com muitas chances de progresso, toda comunidade precisa ter o comprometimento dos seus políticos.

Comentários