Rumo ao nada

Reginaldo Villazón

A nação brasileira vive uma péssima fase política. Em todos os níveis de poder, os políticos e dirigentes públicos se comportam como se estivessem presos num grande redemoinho que os faz girar sem parar, rumo ao nada. As sessões da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal, transmitidas pela televisão, exibem discursos enfadonhos e discussões improdutivas, por longas horas, enquanto os serviços públicos e a economia se deterioram.

Mesmo considerando as deficiências dos brasileiros – baixa escolaridade, baixa qualificação profissional, baixa formação de cidadania –, o povo brasileiro vem se comportando melhor, mais amadurecido politicamente. As paixões intensas por ideologias, partidos e caciques deram lugar a cobranças de melhor aplicação dos impostos em políticas e serviços públicos de boa qualidade, como nas áreas de saúde, educação e segurança. O povo trata hoje a corrupção com mais seriedade e menos gracejo.

O desgoverno é flagrante. A presidente da república está afastada do cargo e ninguém sabe se ela retomará ou não o seu posto. O presidente em exercício montou um ministério com a expectativa de se efetivar no cargo, mas com o dever de tirar o país da crise econômica. Ocorre que o país tem 11,4 milhões de desempregados e as contas do governo federal devem apresentar este ano um déficit de R$ 155,5 bilhões. Além disso, muitos senadores e deputados federais podem ser denunciados por corrupção.

Aos poucos, a população brasileira reconhece que o problema não é eventual, mas é a falência de um sistema político que precisa ser mudado. Os partidos políticos (em número de 35) não representam as correntes políticas existentes no país. Nove deles são trabalhistas. Há um Partido Pátria Livre (PPL), um Partido Novo (NOVO), um Partido da Mulher Brasileira (PMB). Os partidos existem para fazer coligações espúrias, realizar negociatas, defender os privilégios dos parlamentares.

A democracia que a nação deseja – moderna, participativa, eficiente – é necessária para fazer frente a grandes desafios, como preservação de riquezas naturais, segurança alimentar, modernização das cidades, aprimoramento dos serviços públicos, avanço científico. Não superar desafios significa perder oportunidades de desenvolvimento num mundo globalizado que oferece chances de sucessos a toda espécie e tamanho de empreendimento. Ao Brasil tem matérias primas, espaços vazios e gente talentosa.

Os acontecimentos políticos atuais não importam tanto. Somente um sistema político renovado sob novo modelo vai atrair o interesse de pessoas capacitadas e idôneas em ingressar na política e na administração pública do país. Um impasse acontece. Os atuais representantes do povo não vão reformar o sistema político, como deve ser feito. Eles vão aprovar apenas reformas leves. Assim, é possível que a crise tenha que se aprofundar para manter acesa a chama renovadora da insatisfação popular..

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