O jogo em que todos vencem

Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

 
Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos se aproximam. Ambos, totalizarão 28 dias de competição. O mundo todo está com seus olhares voltados para o Brasil. Os brasileiros querem, sem dúvida, conquistar muitas medalhas. No futebol, então, sonham novamente em ser campeões. Aliás, sempre queremos ser campeões.

Temos condições para isso pois temos experiências. Somos, por exemplo, campeões mundiais em desigualdade social, acidentes de trabalho, mortes por acidente de trânsito, homicídios e impunidade. Temos larga experiência em violência, corrupção e analfabetismo. Somos especialistas em péssima qualidade de educação, saúde, segurança, saneamento e transportes públicos.

Somos um dos maiores produtores e exportadores de armas do mundo. Além de sermos grandes produtores de programas de baixaria na TV, somos "top" no consumo e tráfico de entorpecentes. Nossas prisões estão entre as mais superlotadas do mundo.

Uma grande quantidade de medalhas de ouro nos fará bem, afinal, nos ajudará a esquecer a relação desses problemas com a gestão pública e que temos eleições este ano. Esqueceremos até mesmo que os devoradores de bens públicos, alguns dos quais cassados, continuam jogando no campo político.

Os cristãos não podem ficar fora desse jogo. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos alerta para isso com sua nota sobre as eleições que ocorrerão em outubro deste ano: "se quisermos transformar o Brasil, comecemos por transformar os municípios. As eleições são um dos caminhos para atingirmos essa meta."

Essas eleições se revestem de um significado especial para o país. Por isso, os cristãos comprometidos com a vivência da fé e todos os homens e mulheres de boa vontade são chamados a ações mais efetivas nestas eleições, estando atentos a mecanismos legais importantes.

Além das pessoas que já tiveram condenação judicial em segunda instância estarem impedidas de se apresentarem como candidatas, por estar em pleno vigor a ‘Lei da Ficha Limpa’, outra lei sancionada em setembro de 2015, passou a proibir o financiamento de campanhas por empresas e organizações sem fins lucrativos. Devolve-se, então, ao povo o protagonismo eleitoral, submetido anteriormente aos espertalhões, mancomunados com o poder econômico. Com isso, estanca-se uma das veias da corrupção.

Essas leis criaram a possibilidade de uma efetiva renovação, já que vários políticos – acostumados a usar cargos eletivos como profissão e a se beneficiarem do exercício de suas funções para proveito próprio e não como serviço ao bem público – estarão, agora, forçados a deixar a disputa eleitoral. Esta é uma importante conquista entre tantas outras para a democracia brasileira.

Essas conquistas são frutos da mobilização e da participação política dos brasileiros que, no exercício de sua cidadania, estão cada vez mais fazendo valer seu desejo de não serem representados por quem não encarne os valores éticos e o compromisso com o bem comum.

Estejamos mobilizados em função de um processo eleitoral participativo, lembrando que eleições limpas devem ser desvinculadas de interesses corporativos e não são suficientes para a vida democrática. Estamos ainda longe de sermos uma sociedade verdadeiramente democrática sobretudo no que se refere à vida econômica.

Continuemos, portanto, na luta pela democracia que acreditamos! Ela permitirá que no "jogo da vida" todos sejamos vencedores!

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