Luxúria: coisificação da mulher e evolução do machismo na sociedade

Por muito tempo, o papel da mulher na sociedade foi subvalorizado, tal como na Grécia Antiga, onde esta tinha como principal função as atividades meramente reprodutivas, enquanto ao homem eram destinadas às atividades tidas como enobrecedoras, como as discussões políticas e os debates intelectuais no seio da Pólis. A igreja, sobretudo a Cristã, sempre tratou a mulher como aquela que faz o homem se desviar do caminho da retidão, por não suportar a ‘tentação da carne’, fazendo, assim, um paralelo com a famosa estória bíblica em que Eva induziu Adão a comer do fruto proibido. Vale ressaltar, que muitas dessas concepções machistas permanecem até os nossos dias.

No âmbito artístico, muitos foram os artistas que valorizaram a sensualidade do corpo feminino e abusaram do erotismo em suas pinturas, esculturas e obras de arte de uma maneira geral. Entretanto, por vezes, a mulher foi reduzida à condição de objeto, não possuindo autonomia da vontade, não tendo direito ao voto ou à vida pública – muito menos tendo direito ao seu próprio corpo – sendo destinada, unicamente, aos afazeres domésticos. Em diversas sociedades patriarcais o homem é tido como o ser dominante e a mulher uma mera coadjuvante/dependente que era muitas vezes vendida em troca de perdão de dívidas ou doada ao casamento – no caso da nobreza – para estabelecer aliança política entre reinos estratégicos, os famosos casamentos arranjados. Todos esses exemplos mostram a desvalorização da mulher no decorrer da história da humanidade, sendo tratada como um simples objeto para a satisfação de interesses de homens machistas e egoístas.

Da mesma forma, com o surgimento da sociedade industrial, a coisificação da mulher permaneceu, enquanto o homem ia para as fábricas trabalhar, a mulher ficava em casa cuidando das atividades do lar. Emoção e sentimentos eram considerados fraquezas próprias do sexo feminino e, portanto, deviam ser abolidos do ambiente produtivo, pois na indústria só havia espaço para a racionalidade, competitividade e hierarquia, aspectos comumente associados ao gênero masculino.

Na sociedade contemporânea, apesar de muitas conquistas dos movimentos feministas para as mulheres, ainda são inúmeros os exemplos de ações e comportamentos machistas, tais como as propagandas que tratam a mulher como objeto sexual, enaltecendo, tão somente, seus atributos físicos. No Brasil, podemos notar esse machismo, principalmente, nas propagandas de bebidas, onde as mulheres geralmente são retratadas com o corpo à mostra, abusando da sensualidade. Os profissionais de marketing parecem acreditar que atrelar erotismo às propagandas trará aumento no número de vendas do respectivo produto.

E não é só o seguimento de bebidas que usa tal estratégia, empresas de cosméticos, perfumes e artigos fitness, também costumam usar da sensualidade em suas propagandas, muitas vezes de forma desnecessária, com o objetivo de colocar no subconsciente masculino que adquirir determinado produto fará com que o indivíduo atraia mais mulheres. No último carnaval, por exemplo, a empresa Skol foi acusada de "apologia ao estupro", depois que duas mulheres ligadas a movimentos feministas denunciaram nas redes sociais o conteúdo apelativo de cartazes que diziam: "Esqueci o não em casa". Sem dúvida, uma tentativa frustrada de incentivar um comportamento mais "desinibido" e liberal das mulheres no carnaval.

Desse modo, fica claro que se devem combater todas as manifestações de machismo em nossa sociedade que buscam reduzir a mulher à condição de coisa e objeto de desejo sexual. O mesmo vale para as empresas de publicidade, que devem pensar em formas mais efetivas para divulgarem seus produtos, evitando, portanto, propagandas apelativas que abusem da sensualidade.

Por fim, é necessário enfatizar que as mulheres não devem esmorecer na luta por mais direitos e igualdade, denunciando casos abusivos de machismo como o da famosa marca de bebidas mencionada anteriormente, pois foi somente através da luta que as mulheres alcançaram avanços no decorrer da história. Entretanto, ainda estamos longe de uma igualdade real entre os sexos.


*Tony Lucas Vieira dos Santos: Acadêmico do curso de Administração da UFAL – Campus de Arapiraca/AL.

*Sirlei Tonello Tisott: Docente do curso de Ciências Contábeis da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS.


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