Jacir J. Venturi
Confortam-se com o dever cumprido e
com o julgamento da posteridade. Sim, a História – essa “juíza imparcial” –
repara injustiças, mas tem o péssimo hábito de andar devagar. É notório o gap entre o aplauso de um tempo atual e
aplauso da História. Em contrapartida, a demagogia, o assistencialismo e o
populismo seduzem o líder míope como o canto da sereia. Nesse mister, se faz
oportuno Roberto Campos: “Nas veias dos demagogos não corre o leite da ternura
humana e sim o vinagre da burrice ou o veneno da hipocrisia”. Na América
Latina, há três modelos de governos populistas que deixaram como legado o caos
econômico, a desesperança, a frouxidão moral e a meritocrática: chavismo,
peronismo e lulopetismo.
No Brasil, qual presidente se
circunstanciou das condições mais favoráveis para ascender ao pódio de maior
estadista deste país? Sim, Lula! Aprovação popular que beirou os 80%, bela
trajetória de vida e superação, maioria absoluta no Congresso, oposição
desarticulada e enfraquecida, comércio internacional favorável pelo preço das commodities. Ademais, sucedeu um Governo
que deixou bons fundamentos macroeconômicos e controle fiscal. Ou seja, um
ecossistema propício para as necessárias reformas política, previdenciária,
trabalhista, tributária. A maior herança de um governante é o apoio a um(a)
candidato(a) para sucedê-lo. Indicou Dilma e deu no que deu.
Mas Lula se deixou fascinar pelo
aplauso do seu tempo, bem sabendo que implementar as necessárias reformas seria
enfrentar insatisfações. Faltou-lhe a postura como a de Abraham Lincoln – até
hoje o mais venerado presidente dos EUA –, que em meio às vicissitudes do cargo
costumava repetir que, se fosse responder a todas as críticas e ofensas que lhe
eram direcionadas, não trataria de mais nada. E deixou como legado uma frase
tantas vezes reiterada: “Você pode enganar todo o povo durante algum tempo e
parte do povo durante todo o tempo, mas não pode enganar todo o povo todo o
tempo”. Winston Churchill, celebrado como o maior estadista do século XX, ao
assumir o Governo de coalizão em 1940 proferiu seu célebre discurso, nada prometendo
além de trabalho, suor e lágrimas.
Estamos vivenciando uma das fases mais
graves da nossa História, com a imbricação de três crises simultâneas:
política, econômica e ética. O atual Governo e o Congresso têm o dever cívico e
institucional de oferecer um norte, enquanto nós cidadãos devemos compreender que
não há solução fácil e de curto prazo.
Austeridade fiscal para o equilíbrio
das contas públicas e para manter a sanidade da nossa moeda – eis uma receita
amarga, porém imprescindível. Henrique Meirelles, como líder de uma equipe de
notáveis, tem competência e credibilidade para as medidas necessárias. Ao
presidente Temer – que conhece todos os escaninhos do Congresso – cabe uma
pertinaz interlocução com deputados e senadores para a aprovação das imprescindíveis
reformas. À Polícia Federal e ao Judiciário, que investiguem e julguem os
malfeitos, restabelecendo os valores republicanos. E ao PT? Antes de voltar ao
seu histórico papel de oposição, que faça uma honesta autocrítica.
Os nossos fundamentos econômicos,
democráticos e éticos estão passando por uma prova de fogo. Mas cremos que o
Brasil sairá desta crise fortalecido com a defenestração de governantes e
políticos populistas, corruptos e gastadores, pois geram miséria, lassidão
moral e infelicitam toda uma nação.
Jacir J. Venturi, Presidente do
Sinepe/PR, vice-presidente da ACP, foi professor da UFPR e PUCPR.
Comentários
Postar um comentário